terça-feira, 1 de novembro de 2011

AMOR-PERDÃO


Joanna de Ângelis



Quando vige o amor nos sentimentos, não há lugar para o ressentimento. Não obstante, face à estrutura psicológica do ser humano, a afetividade espontânea sempre irrompe intentando crescimento, de modo a administrar as paisagens que constituem os objetivos existenciais. Não conseguindo atingir as metas, porque se depara com a agressividade inerente ao processo de desenvolvimento intelectomoral que ainda não se pôde instalar, sente-se combatida e impelida ao recuo. Tal ocorrência, nos indivíduos menos equipados de valores éticos, gera mal-estar e choques comportamentais que se podem transformar em transtornos aflitivos.
Quando isso sucede, o ser maltratado refugia-se na mágoa, ancorando-se no desejo de desforço ou de vingança.
A injustiça de qualquer natureza é sempre -uma agressão à ordem natural que deve viger em toda a parte, especialmente no homem que, por instinto, defende-se antes de ser agredido, arma-se temendo ser assaltado, fica à espreita em atitude defensiva...
Tudo quanto lhe constitui ameaça real ou imaginária tornasse-lhe temerário e,  por  mecanismo  de  defesa,  experimenta  as  reações  fisiológicas  específicas que decorrem das expectativas psicológicas.
A  raiva,  sob  esse  aspecto,  é  uma  reação  que  resulta  da  descarga  de adrenalina  na  corrente  sanguínea,  quando  se  está  sob  tensão,  medo, ansiedade ou conflito defensivo.
O medo que, às vezes, a inspira, impulsiona à agressão, em cujo momento assume o comando das atitudes, assenhoreando-se da mente e da emoção.
A  criatura  humana,  portanto,  convive  com  esses  estados  emocionais  que se  alternam  de  acordo  com  as  ocorrências,  e  que  se  podem  transformar  em transtornos desesperadores tais o ódio, o pânico, a mágoa enfermiça.
A mágoa ou ressentimento, segundo os estudos da Dra. Robin Kasarjian, instala-se  nos  sentimentos  em  razão  do  Self  encontrar-se  envolto  por  subpersonalidades, que são as qualidades morais inferiores, aquelas herdadas das experiências  primárias  do  processo  evolutivo,  tais  a  inveja,  o  ciúme,  a malquerença, a perversidade, a insatisfação, o medo, a raiva, a ira, o ódio, etc.
Quando alguém emite uma onda inferior — subpersonalidade — a mesma sincroniza com uma faixa equivalente que se encontra naquele contra quem é direcionada  a  vibração,  estabelecendo-se  um  contato  infeliz,  que  provoca idêntica reação.
A  partir  daí  estabelece-se  a  luta  com  enfrentamentos  contínuos,  que resultam  em  danos  para  ambos  os  litigantes,  que  passam  a  experimentar debilidade  nas  suas  resistências  da  saúde  física,  emocional,  psíquica, econômica,  social...  Naturalmente,  porque  a  alteração  do  comportamento  se reflete na sua existência humana.
Sentindo-se  vilipendiado,  ofendido,  injustiçado,  o  outro,  que  se  supõe vítima, acumula o morbo do ressentimento e cultiva-o, como recurso justo para descarregar o sofrimento que lhe está sendo imposto.
Essa  atitude  pode  ser  comparada  à  condução  de  “uma  brasa  para  ser atirada  no  adversário  que,  apesar  disso,  enquanto  não  é  lançada  queima  a mão daquele que a carrega”.
O ressentimento, por isso mesmo, é desequilíbrio da emoção, que passa a atitude  infeliz,  profundamente  infantil,  qual  a  de  querer  vingar-se,  embora sofrendo  os  danos  demorados  que  mantém  esse  estado  até  quando  surja  a oportunidade.
O  amor,  porém,  proporciona  a  transformação  das  subpersonalidades  em superpersonalidades, o  que  impede  a  sintonia  com os  petardos  inferiores  que lhes sejam disparados.
Em nossa forma de examinar a questão do ressentimento e da estrutura psicológica em torno do Self, acreditamos que, em se traçando uma horizontal, e  partindo-se  do  fulcro  em  torno  de  um  semicírculo  para  baixo,  teríamos  as subpersonalidades,  e,  naquele  que  está  acima  da  linha  reta,  defrontamos  as superpersonalidades, mesmo que, nas pessoas violentas e mais instintivas, em forma embrionária.
Toda vez que é gerada uma situação de antagonismo entre os indivíduos, as  subpersonalidades  se  enfrentam,  distendendo  ondas  de  violência  que encontram guarida no campo equivalente da pessoa objetivada.
Não  houvesse  esse  registro  negativo  e  a  agressão  se  perderia, por  faltar sintonia vibratória que facultasse a captação psíquica.
O  ressentimento,  portanto,  é  efeito  também  da onda perturbadora  que  se fixa  nos  painéis  da  emotividade,  ampliando  o  campo  da  subpersonalidade semelhante  que  se  transforma  em  gerador  de  toxinas  que  terminam  por perturbar e enfermar quem o acolhe.
Sob  o  direcionamento  do  amor,  a  subpersonalidade  tende  a  adquirir valores  que  a  irão  transformar  em  sentimentos  elevados  — superpersonalidades  —  anulando,  lentamente,  a  sombra,  o  lado  mau  do indivíduo, criando campo para o perdão.
É provável que, na primeira fase, o perdão não seja exatamente o olvidar da ofensa, apagando da memória a ocorrência desagradável e malfazeja. Isso virá  com  o  tempo,  na  medida  que  novas  conquistas  éticas  forem  sendo armazenadas no inconsciente, sobrepondo-se às mazelas dominantes, por fim, anulando-lhes as vibrações deletérias que são disparadas contra o adversário, ao tempo em que desintegram as resistências daquele que as emite.
Não revidar o mal pelo mal é forma de amar, concedendo o direito de ser enfermo  àquele  que  se  transforma  em  agressor,  que  se  compraz  em  afligir  e perturbar.
Nessa  condição  —  estágio  primário  do  processo  de  desenvolvimento  do pensamento  e  da  emoção  —  é  natural  que  o  outro  pense  e  aja  de  maneira equivocada.
O  amor-perdão  é  um  ato  de  gentileza  que  a  pessoa  se  dispensa,  não  se permitindo  entorpecer  pelos  vapores  angustiantes  do  desequilíbrio  ou desarticular-se emocionalmente sob a ação dos tóxicos do ódio ressentido.
O  homem  maduro  psicologicamente  é  saudável,  por  isso,  ama-se  e perdoa-se  quando  se surpreende  em  erro,  pois  que  percebe  não ser  especial ou alguém irretorquível.
Compreendendo  que  o  trabalho  de  elevação  se  dá  mediante  as experiências  de  erros  e  de  acertos,  proporciona-se  tolerância,  nunca  porém sendo complacente com esses equívocos, a ponto de os não querer corrigir.
É  atitude  de  sabedoria  perdoar-se  e  perdoar,  porquanto  a  conquista  dos valores  éticos  é  consequência  natural  do  equilíbrio  emocional,  patamar  de segurança para a aquisição da plenitude.
O  amor  é  força  irradiante  que  vence  as  distonias  da  violência  vigente  no primarismo humano, gerador das subpersonalidades.
Surge  como  expressão  de  simpatia  que  toma  corpo  na  emoção, distendendo  ondas  de  felicidade  que  envolvem  o  ser  psicológico  e  se  torna força dominadora a conduzir os objetivos essenciais à vida digna. Fonte proporcionadora do perdão, confunde-se com esse, porque as fronteiras aparentes não existem em realidade, desde que um somente tem vigência quando o outro se pode expressar.
Amor  é  saúde  que  se  expande,  tornando-se  vitalidade  que  sustenta  os ideais,  fomenta  o  progresso  e  desenvolve  os  valores  elevados  que  devem caracterizar a criatura humana.
Ínsito em todos os seres, é a luz da alma, momentaneamente em sombra, aguardando oportunidade de esplender e expandir-se.
O amor completa o ser, auxiliando-o na auto superação de problemas que perdem o significado ante a sua grandeza.
Enquanto  viger  nos  sentimentos,  não  haverá  lugar  para  os  resíduos enfermiços  das  subpersonalidades,  que  se  transformarão  em  claridade psicológica,  avançando  para  os  níveis  superiores  do  sentimento,  quando  a auto realização conseguirá perdoar a tudo e a todos, forma única de viver em plenitude.
Psicografia de Divaldo Franco – Do Livro Amor Imbatível Amor

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