Tema da Semana:
"Responsabilidade" de 05 a 11 de Dezembro de 2011
Irmão X
Nos primeiros tempos da nova fé,
Aureliano Correia não regateava as manifestações entusiásticas.
- Sou espírita – exclamava
convicto -, pertenço às fileiras dos discípulos sinceros da Nova Revelação.
Tenho a minha tarefa a cumprir.
O rapaz vivia embriagado de
júbilio. Comparecia pontualmente às reuniões doutrinarias, comentava ardoroso,
os ensinamentos ouvidos. Ex punha projetos grandiosos, relativamente ao futuro.
Instituiria núcleos de fé viva, disseminaria fundações de amor fraternal.
Afirmava, sem medo, a nova atitude e prometia realizações seguras e generosas.
Não se contentava em estabelecer
compromissos com a fé. Aureliano ia mais longe. Referia-se ao Espiritismo na
política, na filosofia, nas artes, nas ciências. Trabalharia sem cessar, dizia
ele, e criaria diretrizes novas e edificações mais sólidas para o espírito
humano.
Continuava atravessando a região
do entusiasmo fácil, quando, certa noite, no parcial desprendimento do sono,
foi conduzido à presença de um de seus orientadores espirituais.
O companheiro exultava.
A entidade amiga falou
carinhosamente, depois de abraçá-lo:
- Aureliano, que o Senhor te
abençoe as esperanças de redenção. Teu caminho cobre-se, agora de júbilos
santos. Guardas, meu amigo, a divina lâmpada no coração. A benção do Eterno Pai
segue tuas aspirações de progresso. Sê bendito e feliz, filho meu! Teu ideal de
crente fervoroso será uma roseira florida no jardim do Mestre Generoso e o
perfume de fé em teu espírito idealista.
O rapaz chorava de contentamento
e emoção.
E o sábio mentor prosseguiu
calmo e bondoso:
- Atingirás a praia sublime da
paz consoladora e, seguro na terra firme das convicções sadias, observarás,
espiritualmente, de longe, o oceano revolto do mundo, embora continues em
serviço de abnegação ativa a beneficio dos nossos irmãos encarnados, aflitos e
vacilantes, na grande jornada, através das ondas vorazes da ilusão. Receberás
consolações celestes, ao contacto dos amigos espirituais que te esperam, deste
lado da vida. Conhecerás a profunda alegria da luz eterna, no tabernáculo da
alma crente. As dificuldades da terra surgirão aos teus olhos, na qualidade de
benfeitoras. No seio das lutas mais forte, sentirão o beijo caricioso da
amizade dos Servos Glorificados de Deus, invisíveis no mundo aos olhos mortais.
Cada dia será uma taça de oportunidades benditas ao teu coração e cada noite um
parque de claridades compassivas, onde meditarás nas Dádivas Celestes, entre a
alegria e o reconhecimento. Alcançarás o bem-estar de quem encontrou o amor
universal, a compreensão de todos os seres e o respeito a todas as coisas e,
venturoso, estarás a caminho de esferas iluminadas, a distancia dos círculos
inferiores da carne, seguindo com Jesus, amparado por seu divino amor...
Enquanto a entidade fazia súbita
parada, sentia-se Aureliano o mais feliz dos homens. Seria o aprendiz superior,
discípulo dileto do Cristo. Não cabia em si de satisfação. O orientador
devotado, porém, quebrou a pausa longa e tornou a falar:
- Mas, como sabes Aureliano, não
existe concessão sem responsabilidade. Alguma coisa dará de ti mesmo, para
receberes tantas bênçãos. Para que te integres na posse definitiva de
semelhante tesouro, é necessário que abandones a caverna dos instintos
inferiores e que sejas um homem renovado em Cristo-Jesus. Não poderás perder o
Mestre de vista, procurando seguir-lhe os passos, desde a manjedoura de
submissão a Deus até o cuspo irônico povo de Jerusalém, a fim de que o
encontres no Calvário, a caminho da ressurreição. È indispensável seguir Jesus
e
Alcança-lo, no monte do testemunho, diante dos
homens e da suprema obediência ao Eterno Pai. Serás bafejado pelas harmonias
celestes; entretanto, não te poderás esquivar aos sacrifícios terrestres.
Receberás a tranqüilidade que excede a compreensão das criaturas; todavia, para
que isto se verifique, é indispensável te arrependas do passado delituoso e
creias na tua sublime oportunidade de hoje, negando-te a alimentar o “homem
velho” que ainda te domina o coração, e suportando a luminosa cruz de teus
serviços de cada dia, acompanhando Aquele que nos dirige os destinos desde o
principio. Ganharás a luz, Aureliano, mas é imprescindível que expulses as
sombras que te rodeiam. Atingirás a esfera superior; no entanto, é preciso que
te retires das zonas mais baixas dos vastos caminhos da vida. Não temas, porém,
meu filho! Jesus não desampara a boa-vontade dos homens!
Nesse instante, Aureliano
acordou muito pálido. Aquela advertência calara-lhe fundo. Sentia-se
desapontado. Estimava o entusiasmo, as vibrações festivas, os rasgos da
palavra, mas não se lembrara ainda do campo da responsabilidade e do serviço
inevitáveis. Queria uma doutrina para se proteger, mas nunca pensara na fé que
exige trabalho, abnegação e testemunho no bem ativo. Estava, portanto,
decepcionado. Aureliano, tão expansivo nas afirmações fáceis, levantou-se da
cama, profundamente amuado, arredio, nervoso. Sua mente recuava, a passos
largos, nas promessas feitas.
Mal não saíra de casa, a caminho
do centro urbano, eis que quatro companheiros humildes lhe surgem à frente,
solicitando ansiosos:
- Aureliano amigo, fundamos
ontem um núcleo modesto e contamos com você! Sentimo-nos cercados de
necessidades espirituais e precisamos cooperadores de sua envergadura. Venha
hoje à noite, não falte. Esperamos que aceite o nosso convite e que não
desampare a nossa confiança!
O interpelado, porém muito
diferente da véspera, sem qualquer disposição ao serviço sério, e positivamente
em fuga ante a idéia de responsabilidade, respondeu com secura:
- Não, meus amigos, não posso
dizer que sou espírita.
E, depois de uma pausa, ante o
espanto dos companheiros, concluiu, como muita gente:
- Tenho muita vontade de ser.
Livro: Pontos e
Contos Psicografia Francisco Cândido Xavier - Pelo
espírito: Irmão X
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