Tema da Semana:
"Responsabilidade" de 05 a 11 de Dezembro de 2011
Allan Kardec
“CAUSAS ATUAIS DAS AFLIÇÕES”
4.
De duas espécies são as vicissitudes da vida, ou, se o preferirem, promanam de duas
fontes bem diferentes, que importa distinguir. Umas têm sua causa na vida
presente;
outras, fora desta vida.
Remontando-se
à origem dos males terrestres, reconhecer-se-á que muitos são consequência
natural do caráter e do proceder dos que os suportam.
Quantos
homens caem por sua própria culpa! Quantos são vítimas de sua imprevidência, de
seu orgulho e de sua ambição!
Quantos
se arruínam por falta de ordem, de perseverança, pelo mau proceder, ou por não
terem sabido limitar seus desejos!
Quantas
uniões desgraçadas, porque resultaram de um cálculo de interesse ou de vaidade
e nas quais o coração não tomou parte alguma!
Quantas
dissensões e funestas disputas se teriam evitado com um pouco de moderação e
menos suscetibilidade!
Quantas
doenças e enfermidades decorrem da intemperança e dos excessos de todo gênero!
Quantos
pais são infelizes com seus filhos, porque não lhes combateram desde o
princípio as más tendências! Por fraqueza, ou indiferença, deixaram que neles
se desenvolvessem os gérmens do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade, que
produzem a secura do coração; depois, mais tarde, quando colhem o que semearam,
admiram-se e se afligem da falta de deferência com que são tratados e da ingratidão
deles.
Interroguem
friamente suas consciências todos os que são feridos no coração pelas
vicissitudes e decepções da vida; remontem passo a passo à origem dos males que
os torturam e verifiquem se, as mais das vezes, não poderão dizer: Se eu
houvesse feito, ou deixado de fazer tal coisa, não estaria em semelhante
condição.
A
quem, então, há de o homem responsabilizar por todas essas aflições, senão a si
mesmo? O homem, pois, em grande número de casos, é o causador de seus próprios infortúnios;
mas, em vez de reconhecê-lo, acha mais simples, menos humilhante para a sua
vaidade acusar a sorte, a Providência, a má fortuna, a má estrela, ao passo que
a má estrela é apenas a sua incúria.
Os
males dessa natureza fornecem, indubitavelmente, um notável contingente ao
cômputo das vicissitudes da vida. O homem as evitará quando trabalhar por se
melhorar moralmente, tanto quanto intelectualmente.
5.
A lei humana atinge certas faltas e as pune. Pode, então, o condenado
reconhecer que sofre a consequência do que fez. Mas a lei não atinge, nem pode
atingir todas as faltas; incide especialmente sobre as que trazem prejuízo à
sociedade e não sobre as que só prejudicam os que as cometem. Deus, porém, quer
que todas as suas criaturas progridam e, portanto, não deixa impune qualquer
desvio do caminho reto. Não há falta alguma, por mais leve que seja, nenhuma infração
da sua lei, que não acarrete forçosas e inevitáveis consequências, mais ou menos
deploráveis. Daí se segue que, nas pequenas coisas, como nas grandes, o homem é
sempre punido por aquilo em que pecou. Os sofrimentos que decorrem do pecado
são-lhe uma advertência de que procedeu mal. Dão-lhe experiência, fazem-lhe
sentir a diferença existente entre o bem e o mal e a necessidade de se melhorar
para, de futuro, evitar o que lhe originou uma fonte de amarguras; sem o que,
motivo não haveria para que se emendasse. Confiante na impunidade, retardaria
seu avanço e, consequentemente, a sua felicidade futura.
Entretanto,
a experiência, algumas vezes, chega um pouco tarde: quando a vida já foi
desperdiçada e turbada; quando as forças já estão gastas e sem remédio o mal. Põe-se
então o homem a dizer: “Se no começo dos meus dias eu soubera o que sei hoje,
quantos passos em falso teria evitado! Se houvesse de recomeçar, conduzir-me-ia
de outra maneira. No entanto, já não há mais tempo!” Como o obreiro preguiçoso,
que diz: “Perdi o meu dia”, também ele diz: “Perdi a minha vida”. Contudo,
assim como para o obreiro o Sol se levanta no dia seguinte, permitindo-lhe
neste reparar o tempo perdido, também para o homem, após a noite do túmulo,
brilhará o Sol de uma nova vida, em que lhe será possível aproveitar a
experiência do passado e suas boas resoluções para o futuro.
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