Tema da semana:
“Piedade filial”.
De 27/02/2012 a 04/03/2012
Hilário
Silva
O coronel Manoel Rabelo,
influente fazendeiro no Brasil Central, fora acometido de paralisia nas pernas.
Vivia no leito, rodeado
pelos filhos atentos. Muito carinho. Assistência contínua.
No decurso da doença veio a
conhecer a Doutrina Espírita, que lhe abriu novos horizontes à vida mental.
Pouco a pouco desprendia-se
da idéia de posse.
Para que morrer com fama de
rico?
Queria agora a paz, a
bênção da paz.
Viúvo, dono de expressiva
fortuna e prevendo a desencarnação próxima, chamou os quatro filhos adultos e
repartiu entre eles os seus bens.
Terras, sítios, casas e
animais, avaliados em seis milhões de cruzeiros, foram divididos
escrupulosamente.
Com isso, porém, veio a
reviravolta.
Donos de riqueza própria,
os filhos se fizeram distantes e indiferentes.
Muito embora as rogativas
paternas, as visitas eram raras e as atenções inexistentes.
Rabelo, muito triste e quase
completamente abandonado, perguntava a si mesmo se não havia cometido
precipitação ou imprudência.
Os filhos não eram
espíritas e mostravam irresponsabilidade completa.
Nessa conjuntura,
apareceu-lhe antigo e inesperado devedor. O Coronel Antônio Matias, seu amigo
da mocidade, veio desobrigar-se de empréstimo vultuoso, que havia tomado sob
palavra, e pagou-lhe dois milhões de cruzeiros em cédulas de contado.
Na presença de dois filhos,
Rabelo colocou o dinheiro em cofre forte, ao pé da cama. Sobreveio o imprevisto.
Os quatro filhos voltaram
às antigas manifestações de ternura. Revezavam-se junto dele.
Papas de aveia. Caldos de
galinha. Frutas e vitaminas.
Mantinham os cobertores
quentes e fiscalizavam a passagem do vento pelas janelas.
Raramente Rabelo ficava
algumas horas sozinho.
E, assim, viveu ainda dois
anos, desencarnando em grande serenidade.
Exposto o cadáver à
visitação pública, fecharam-se os filhos no quarto do morto e, abrindo
aflitamente o cofre, somente encontraram lá um bilhete escrito e assinado pela
vigorosa letra paterna, entre as páginas de surrado exemplar de "O
Evangelho segundo o Espiritismo".
O papel assim dizia:
"Meus filhos,
Deus abençoe vocês todos.
O dinheiro que me restava distribuí entre vários amigos
para obras espíritas de caridade. Lego, porém, a vocês, o capítulo décimo
quarto de "O Evangelho segundo o Espiritismo". E os quatro,
extremamente desapontados, leram a legenda que se seguia:
"Honrai a vosso pai e a vossa mãe.
- Piedade filial."
Do
livro “Almas em desfile”. Psicografia de Francisco Cândido Xavier e Waldo
Vieira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
(-: , Olá, seja bem vindo, se o seu comentário for legal, e não trouxer conteúdo agressivo, ele será postado.