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“MOTIVOS DE RESIGNAÇÃO”
de 19/03/2012 a 25/03/2012
Allan Kardec
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
MOTIVOS DE RESIGNAÇÃO
12. Por estas palavras: Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados,
Jesus aponta a compensação que hão de ter os que sofrem e a resignação que
leva o padecente a bendizer do sofrimento, como prelúdio da cura.
Também podem essas palavras ser traduzidas assim: Deveis considerar-vos felizes
por sofrerdes, visto que as dores deste mundo são o pagamento da dívida que as
vossas passadas faltas vos fizeram contrair; suportadas pacientemente na Terra,
essas dores vos poupam séculos de sofrimentos na vida futura. Deveis,
pois, sentir-vos felizes por reduzir Deus a vossa dívida, permitindo que a
saldeis agora, o que vos garantirá a tranquilidade no porvir.
O homem que sofre assemelha-se a um devedor de avultada soma, a quem o credor
diz: “Se me pagares hoje mesmo a centésima parte do teu débito,
quitar-te-ei do restante e ficarás livre; se o não fizeres,
atormentar-te-ei, até que pagues a última parcela.” Não se sentiria feliz o
devedor por suportar toda espécie de privações para se libertar,
pagando apenas a centésima parte do que deve? Em vez de se queixar
do seu credor, não lhe ficará agradecido?
Tal o sentido das palavras: “Bem-aventurados os aflitos, pois que serão
consolados.” São ditosos, porque se quitam e porque, depois de se haverem
quitado, estarão livres. Se, porém, o homem, ao quitar-se de um lado,
endivida-se de outro, jamais poderá alcançar a sua libertação. Ora, cada nova
falta aumenta a dívida, porquanto nenhuma há, qualquer que ela seja, que não
acarrete forçosa e inevitavelmente uma punição. Se não for hoje, será amanhã;
se não for na vida atual, será noutra. Entre essas faltas, cumpre se
coloque na primeira fiada a carência de submissão à vontade de Deus. Logo, se
murmurarmos nas aflições, se não as aceitarmos com resignação e
como algo que devemos ter merecido, se acusarmos a Deus de ser
injusto, nova dívida contraímos, que nos faz perder o fruto que devíamos colher
do sofrimento. É por isso que teremos de recomeçar, absolutamente como se, a um
credor que nos atormente, pagássemos uma cota e a tomássemos de novo por
empréstimo.
Ao entrar no mundo dos Espíritos, o homem ainda está como o operário que
comparece no dia do pagamento. A uns dirá o Senhor: “Aqui tens a paga dos teus
dias de trabalho”; a outros, aos venturosos da Terra, aos que hajam vivido na
ociosidade, que tiverem feito consistir a sua felicidade nas satisfações do
amor-próprio e nos gozos mundanos: “Nada vos toca, pois que recebestes na Terra
o vosso salário. Ide e recomeçai a tarefa.”
13. O homem pode suavizar ou aumentar o amargor de suas provas, conforme o modo
por que encare a vida terrena. Tanto mais sofre ele, quanto mais longa se lhe
afigura a duração do sofrimento. Ora, aquele que a encara pelo prisma da vida
espiritual apanha, num golpe de vista, a vida corpórea. Ele a vê como um ponto
no infinito, compreende lhe a curteza e reconhece que esse penoso momento terá
presto passado. A certeza de um próximo futuro mais ditoso o sustenta e anima
e, longe de se queixar, agradece ao Céu as dores que o fazem avançar.
Contrariamente, para aquele que apenas vê a vida corpórea, interminável lhe
parece esta, e a dor o oprime com todo o seu peso. Daquela maneira
de considerar a vida, resulta ser diminuída a importância das coisas deste
mundo, e sentir-se compelido o homem a moderar seus desejos, a contentar-se com
a sua posição, sem invejar a dos outros, a receber atenuada a impressão dos
reveses e das decepções que experimente. Daí tira ele uma calma e uma
resignação tão úteis à saúde do corpo quanto à da alma, ao passo que, com a
inveja, o ciúme e a ambição, voluntariamente se condena à tortura e aumenta as
misérias e as angústias da sua curta existência.(grifo nosso).
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