Tema da semana
“A
infelicidade real”
de 23/04/2012 a 29/04/2012
Allan Kardec
O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
A verdadeira desgraça
24. Toda a gente fala da desgraça, toda a gente já a sentiu e julga conhecer-lhe o caráter múltiplo. Venho eu dizer-vos que quase toda a gente
se engana e que a desgraça real não
é, absolutamente, o que os homens, isto é, os desgraçados,
o supõem. Eles a veem na
miséria, no fogão
sem lume, no credor que ameaça, no berço de que o anjo sorridente desapareceu, nas lágrimas, no féretro que se
acompanha de cabeça
descoberta e com o
coração despedaçado, na angústia
da traição, na
desnudação do orgulho que
desejara envolver-se em púrpura e mal oculta a sua nudez sob os andrajos da vaidade. A tudo isso e a muitas coisas mais se dá o nome de
desgraça, na linguagem humana.
Sim, é desgraça para os que só veem o
presente; a verdadeira desgraça,
porém, está nas consequências de um fato, mais do que no próprio
fato. Dizei-me se um
acontecimento, considerado ditoso na ocasião, mas que acarreta consequências funestas, não é, realmente, mais
desgraçado do que outro que a princípio
causa viva contrariedade e acaba produzindo o bem. Dizei-me se a tempestade
que vos arranca as arvores,
mas que saneia o ar, dissipando os miasmas insalubres que
causariam a morte, não é antes uma felicidade do que uma infelicidade.
Para julgarmos de qualquer coisa, precisamos
ver-lhe as consequências. Assim, para bem apreciarmos o que, em realidade,
é ditoso ou inditoso para o homem, precisamos
transportar-nos para além desta vida, porque
é lá que as consequências se fazem sentir.
Ora, tudo o que se chama infelicidade, segundo as acanhadas vistas humanas, cessa com a vida
corporal e encontra a sua compensação na vida futura.
Vou revelar-vos a infelicidade sob uma nova forma, sob a forma bela e florida
que acolheis e desejais com todas
as veras de vossas almas iludidas. A
infelicidade é a alegria, é o
prazer, é o tumulto, é a vã agitação, é a satisfação louca da vaidade, que fazem calar a
consciência, que comprimem a ação do pensamento, que atordoam o homem com relação ao seu futuro. A infelicidade é o ópio do
esquecimento que ardentemente procurais conseguir.
Esperai,
vós que chorais! Tremei, vós que rides, pois que o vosso corpo está satisfeito!
A Deus não se engana; não se foge ao destino; e as provações, credoras mais impiedosas
do que a matilha que a miséria desencadeia, vos espreitam o repouso ilusório para vos imergir de
súbito na agonia da verdadeira
infelicidade, daquela que surpreende a alma amolentada
pela indiferença e pelo egoísmo.
Que,
pois, o Espiritismo vos esclareça
e recoloque, para vós, sob verdadeiros prismas, a verdade e o erro, tão singularmente deformados pela vossa cegueira! Agireis então como bravos soldados que, longe de fugirem ao perigo, preferem as lutas dos combates arriscados à paz que lhes não pode dar glória,
nem promoção! Que importa ao soldado perder
na refrega armas,
bagagens e uniforme,
desde que saia vencedor e com glória? Que importa ao que tem fé no futuro deixar no campo de batalha da vida a riqueza e o manto de carne, contanto que sua alma entre gloriosa no reino
celeste? - Delfina de Girardin. (Paris, 1861.)
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