Tema da semana
“Parábola do
semeador”
de 16/07/2012 a
22/07/2012
Neio Lúcio
Certo
fazendeiro, muito rico, chamou o filho de quinze anos e disse-lhe:
-
Filho meu, todo homem apenas colherá daquilo que plante. Cuida de
fazer bem a todos, para que sejas feliz.
O
rapaz ouviu o conselho e, no dia imediato, muito carinhosamente
alojou minúsculo cajueiro em local não distante da estrada que
ligava o vilarejo próximo à propriedade paternal.
Decorrida
uma semana, tendo recebido das mãos paternas um presente em
dinheiro, foi à vila e protegeu pequena fonte natural,
construindo-lhe conveniente abrigo com a cooperação de alguns
poucos trabalhadores, aos quais recompensou generosamente.
Reparando
que vários mendigos por ali passavam, ao relento, acumulou as
dádivas que recebia dos familiares e, quando completou vinte anos,
edificou reconfortante albergue para asilar viajores sem recursos.
Logo
após, a vida lhe impôs amargurosas surpresas.
Sua
Mãezinha morreu num desastre e o Pai, em virtude das perseguições
de poderosos inimigos na luta comercial, empobreceu rapidamente,
falecendo em seguida. Duas irmãs mais velhas casaram-se e tomaram
diferentes rumos.
O
rapaz, agora sozinho, embora jamais esquecesse os conselhos paternos,
revoltou-se contra as idéias nobres e partiu mundo a fora.
Trabalhou,
ganhou enorme fortuna e gastou-a, gozando os prazeres inúteis.
Nunca
mais cogitou de semear o bem.
Os
anos se desdobraram uns sobre os outros.
Entregue
à idade madura, dera-se ao vício de jogar e beber.
Muita
vez, o Espírito de seu pai se aproximava, rogando-lhe cuidado e
arrependimento. O filho registrava-lhe os apelos em forma de
pensamentos, mas negava-se a atender. Queria somente comer à vontade
e beber nas casas ruidosas, até à madrugada.
Acontece,
porém, que o equilíbrio do corpo tem limites e sua saúde se
alterou de maneira lamentável. Apareceram-lhe feridas por todo o
corpo. Não podia alimentar-se regularmente. Perdeu a fortuna que
possuía, através de viagens e tratamentos caros. Como não fizera
afeições, foi relegado ao abandono. Branquejaram-se-lhe os cabelos.
Os amigos das noitadas alegres fugiram dele; envergonhado,
ausentou-se da cidade a que se acolhera e transformou-se em mendigo.
Peregrinou
por muitos lugares e por muitos climas, até que, um dia, sentiu
imensas saudades do antigo lar e voltou ao pequeno burgo que o vira
crescer.
Fez
longa excursão a pé. Transcorridos muitos dias, chegou, extenuado,
ao sítio de outro tempo.
O
cajueiro que plantara convertera-se em árvore dadivosa. Encantado,
viu-lhe os frutos tentadores. Aproveitou-os para matar a própria
fome e seguiu para a vila. Tinha sede e buscou a fonte. A corrente
cristalina, bem protegida, afagou-lhe a boca ressequida.
Ninguém
o reconheceu, tão abatido estava.
Em
breve, desceu a noite e sentiu frio. Dois homens caridosos
ofereceram-lhe os braços e conduziram-no ao velho asilo que ele
mesmo construíra. Quando entrou no recinto, derramou muitas
lágrimas, porque seu nome estava gravado na parede com palavras de
louvor e bênção.
Deitou-se,
constrangido, e dormiu.
Em
sonho, viu o Espírito do pai, junto a ele, exclamando:
-
Aprendeste a lição, meu filho? Sentiste fome e o cajueiro te
alimentou; tiveste sede e a fonte te saciou; necessitavas de asilo e
te acolheste ao lar que edificaste em favor dos que passam com
destino incerto...
Abraçando-o,
com ternura, acrescentou:
-
Por que deixaste de semear o bem?
O
interpelado nada pôde responder. As lágrimas embargavam-lhe a voz,
na garganta.
Acordou,
muito tempo depois, com o rosto lavado em pranto, e, quando o
encarregado do abrigo lhe perguntou o que desejava, informou
simplesmente:
-
Preciso tão-somente de uma enxada... Preciso recomeçar a ser útil,
de qualquer modo.
Do
livro “Alvorada cristã”.
Psicografia
de Francisco Cândido Xavier.
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