Tema da semana
“Parábola do
Semeador”
de 16/07/2012 a 22/07/2012
Irmão
X
Conta-se que existiu um
cristão inteligente e sincero, de convicções forte e maneiras
francas, que, onde estivesse, atento às letras evangélicas, não
deixava de semear a palavra do Senhor.
Excelente conversador,
ocupava a tribuna com êxito invariável. As imagens felizes
fluíam-lhe dos lábios quais arabescos maravilhosos de som. Ensinava
sempre, conduzia com lógica, aconselhava com acerto, espalhava
tesouros verbais. No entanto, reconhecia-se incompreendido de toda
gente.
Em verdade, no fundo,
exaltava o amor; todavia, acima de tudo, queria ser amado.
Salientava os benefícios da cooperação; contudo, estimava a
colaboração alheia, sentindo-se diminuído quando as situações
lhe reclamavam concurso fraterno. Sorria, contente, ao receber o
titulo de orientador; entretanto, dificilmente sabia utilizar o
titulo de irmão. Habituara-se, por isso, ao patriarcado absorvente
criado pelos homens na imitação do patriarcado libertador de Deus.
Com a passagem do tempo,
todavia, suas palavras perderam o brilho. Faltava-lhe a claridade
interior que somente a integração com Jesus pode proporcionar.
Servo caprichoso e
rígido, insulou-se no estudo das letras sagradas e buscou situar-se
nos símbolos da Boa Nova, descobrindo para ele mesmo a posição do
semeador incompreendido.
As estações correram
sucessivas e a luz de cada dia encontrou-o sempre sozinho e
distante...
Dizia-se enfastiado das
criaturas. Semeara entre elas, afirmava triste, as melhores noções
da vida, recebendo, em troca, a ingratidão e o abandono. Sentia-se
ausente de sua época, desajustado entre os companheiros e descrente
do mundo. E porque não desejava contrariar a si mesmo, retirara-se
das atividades sociais, a fim de aguardar a morte.
Efetivamente, o anjo
libertador, decorrido algum tempo, veio subtraí-lo ao corpo físico.
Estranho, agora, durante
muitos anos. Mantinha-se apagada a lâmpada de seu coração. Não
possuía suficiente luz para identificar os caminhos novos ou para
ser visto pelos emissários celestes.
O inteligente instrutor,
por fim, valeu-se da prece. Afinal, fora sincero em seus pontos de
vista e leal a si próprio. E tanto movimentou os recursos da oração
que o Senhor, ouvindo-lhe as suplicas bem urdidas, desceu em pessoa
aos círculos penumbrosos.
Sentindo-se agraciado, o
infeliz alinhou frases preciosas que Jesus anotava em silencio.
Depois de longa exposição
verbal do aprendiz, perguntou o Mestre, amável:
- Que missão
desempenhaste entre os homens?
O interpelado fixou o
gesto de quem sofre o golpe da injustiça e esclareceu:
- Senhor, minha tarefa
foi semelhante à daquele semeador de tua parábola. Gastei varias
dezenas de anos, espalhando tuas lições na Terra. No entanto, não
fui bem-sucedido no ministério. As sementes que espargi a mancheias
sempre caíram em terra sáfara. Quando não eram eliminadas pelas
pedras do orgulho, apareciam monstros da vaidade, destruindo-as,
surgiam espinhos da insensatez sufocando-as, crescia o lodo do mal,
anulando-me o serviço. Nunca fugi ao esforço de oferecer teus
ensinamentos com abundância. Atirei-os aos quatro cantos do mundo,
através da tribuna privada ou da praça livre. Todavia, meu salário
tem sido o pessimismo e a derrota...
Jesus fitava-o, condoído.
E porque os lábios divinos nada respondessem, o aprendiz acentuou:
- Portanto, é imperioso
reconhecer que te observei as advertências... Fui sincero contigo e
fiel a mim mesmo...
Verificando-se novo
intervalo, disse o Senhor com imperturbável serenidade:
- Se atiraste tantas
semente a esmo, que fazias do solo? Acreditas que o Supremo Criador
conferiu eternidade ao pântano e ao espinheiro? Que dizer do
lavrador que planta desordenadamente, que não retira as pedras do
campo, nem socorre o brejo infeliz? É fácil espalhar sementes
porque os principais sublimes da vida procedem originariamente da
Providencia Divina. A preparação do solo, porém, exige cooperação
direta do servo disposto a contribuir com o próprio suor. Que
fizeste em favor dos corações que converteste em terra de tua
semeadura? Esperavas, acaso que o logo lodacento te procurasse as
mãos para ser drenado, que as pedras te rogassem remoção, que os
carrascais te pedissem corrigenda? Permaneceria a sementeira
fora do plano educativo estabelecido pelo Pai Eterno para o Universo
inteiro?
Ante nova pausa que se
fizera, o crente, desapontado, objetou:
- Contudo, tua parábola
não se refere aos nossos deveres para com o solo...
- Oh! – tornou
Jesus, complacente – estará o mestre obrigado a resolver os
problemas dos discípulos? Não me reportei a Vinha do Mundo, à
charrua do esforço, ao trigo da verdade e ao joio da mentira? Não
expliquei que o maior no Reino dos Céus será sempre aquele que se
transformou em servo de todos? Não comentei, muitas vezes, as
necessidades do serviço?
O ex-instrutor silenciou
em pranto convulso.
O Senhor, todavia,
afagou-lhe pacientemente a fronte e recomendou:
- Volta, meu amigo, ao
campo do trabalho terrestre e não te esqueças do solo, antes de
semear. Cada coração respira em clima diferente. Enquanto muitos
permanecem na zona fria da ignorância outros se demoram na esfera
tórrida das paixões desvairadas. Volta e vive com eles, amparando a
cada um, segundo as suas necessidades. Aduba a sementeira do bem, de
conformidade com as exigências de cada região. Esse ministério
abençoado reclama renúncia e sacrifício. Atendendo aos outros,
ajustarás a ti mesmo. Por enquanto, és apenas o semeador
incompleto. Espargiste as sementes, mas não consultaste as
necessidade de chão. Cada gleba tem as suas dificuldades, os seus
problemas e percalços diversos. Vai e, antes de tudo, distribuí o
adubo da fraternidade e do entendimento.
Nesse instante, o
ex-pregador da verdade sentiu-se impelido por vento forte. A lei do
renascimento arrebatava-o às esferas mais baixas, onde, novamente
internado na carne, trabalharia, não para ser compreendido, mas
para compreender.
Livro: Pontos e Contos
Psicografia Francisco Cândido Xavier - Pelo espírito: Irmão X
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