Tema da semana
“Em defesa da Vida”
de 17/09/2012 a
23/09/2012
Allan Kardec
A questão da pluralidade
das existências há desde longo tempo preocupado os filósofos e
mais de um reconheceu na anterioridade da alma a única solução
possível para os mais importantes problemas da psicologia. Sem esse
princípio, eles se encontraram detidos a cada passo, encurralados
num beco sem saída, donde somente puderam escapar com o auxílio da
pluralidade das existências.
A maior objeção que
podem fazer a essa teoria é a da ausência de lembranças das
existências anteriores. Com efeito, uma sucessão de existências
inconscientes umas das outras; deixar um corpo para tomar outro sem a
memória do passado equivaleria ao nada, visto que seria o nada
quanto ao pensamento; seria uma multiplicidade de novos pontos de
partida, sem ligação entre si; seria a ruptura incessante de todas
as afeições que fazem o encanto da vida presente, a mais doce e
consoladora esperança do futuro; seria, afinal, a negação de toda
a responsabilidade moral. Semelhante doutrina seria tão inadmissível
e tão incompatível com a justiça divina, quanto a de uma única
existência com a perspectiva de uma eternidade de penas por algumas
faltas temporárias. Compreende-se então que os que formam
semelhante ideia da reencarnação a repilam; mas, não é assim que
o Espiritismo no-lo apresenta.
A existência espiritual
da alma, diz ele, é a sua existência normal, com indefinida
lembrança retrospectiva. As existências corpóreas são apenas
intervalos, curtas estações na existência espiritual, sendo a soma
de todas as estações apenas uma parcela mínima da existência
normal, absolutamente
Como se, numa viagem de
muitos anos, de tempos a tempos o viajor parasse durante algumas
horas. Embora pareça que, durante as existências corporais, há
solução de continuidade, por ausência de lembrança, a ligação
efetivamente se estabelece no curso da vida espiritual, que não
sofre interrupção. A solução de continuidade, realmente, só
existe para a vida corpórea exterior e de relação, e a ausência,
aí, da lembrança prova a sabedoria da Providência que assim evitou
fosse o homem por demais desviado da vida real, onde ele tem deveres
a cumprir; mas, quando o corpo se acha em repouso, durante o sono, a
alma levanta o voo parcialmente e restabelece-se então a cadeia
interrompida apenas durante a vigília.
A isto ainda se pode opor
uma objeção, perguntando que proveito pode o homem tirar de suas
existências anteriores, para melhorar-se, dado que ele não se
lembra das faltas que haja cometido. O Espiritismo responde,
primeiro, que a lembrança de existências desgraçadas, juntando-se
às misérias da vida presente, ainda mais penosa tornaria esta
última. Desse modo, poupou Deus às suas criaturas um acréscimo de
sofrimentos. Se assim não fosse, qual não seria a nossa humilhação,
ao pensarmos no que já fôramos! Para o nosso melhoramento, aquela
recordação seria inútil. Durante cada existência, sempre damos
alguns passos para a frente, adquirimos algumas qualidades e nos
despojamos de algumas imperfeições. Cada uma de tais existências
é, portanto, um novo ponto de partida, em que somos qual nos
houvermos feito, em que nos tomamos pelo que somos, sem nos
preocuparmos com o que tenhamos sido. Se, numa existência anterior,
fomos antropófagos, que importa isso, desde que já não o somos? Se
tivemos um defeito qualquer, de que já não conservamos vestígio,
aí está uma conta saldada, de que não mais nos cumpre cogitar.
Suponhamos que, ao contrário, se trate de um defeito apenas meio
corrigido: o restante ficará para a vida seguinte e a corrigi-lo é
do que nesta devemos cuidar.
Tomemos um exemplo: um
homem foi assassino e ladrão e foi punido, quer na vida corpórea,
quer na vida espiritual; ele se arrepende e corrige do primeiro
pendor, porém, não do segundo. Na existência seguinte, será
apenas ladrão, talvez um grande ladrão, porém, não mais
assassino. Mais um passo para diante e já não será mais que um
ladrão obscuro; pouco mais tarde já não roubará, mas poderá ter
a veleidade de roubar, que a sua consciência neutralizará. Depois,
um derradeiro esforço e, havendo desaparecido todo vestígio da
enfermidade moral, será um modelo de probidade. Que lhe importa
então o que ele foi? A lembrança de ter acabado no cadafalso não
seria uma tortura e uma humilhação constantes?
Aplicai este raciocínio
a todos os vícios, a todos os desvios, e podereis ver como a alma se
melhora, passando e tornando a passar pelos cadinhos da encarnação.
Não terá sido Deus mais justo com o tornar o homem árbitro da sua
própria sorte, pelos esforços que empregue por se melhorar, do que
se fizesse que sua alma nascesse ao mesmo tempo que seu corpo e o
condenasse a tormentos perpétuos por erros passageiros, sem lhe
conceder meios de purificar-se de suas imperfeições? Pela
pluralidade das existências, nas suas mãos está o seu futuro. Se
ele gasta longo tempo a se melhorar, sofre as consequências dessa
maneira de proceder: é a suprema justiça; a esperança, porém,
jamais lhe é interdita.
A seguinte comparação é
de molde a tornar compreensíveis as peripécias da vida da alma:
Suponhamos uma estrada
longa, em cuja extensão se encontram, de distância em distância,
mas com intervalos desiguais, florestas que se tem de atravessar e, à
entrada de cada uma, a estrada, larga e magnífica, se interrompe,
para só continuar à saída. O viajor segue por essa estrada e
penetra na primeira floresta. Aí, porém, não dá com caminho
aberto; depara-se-lhe, ao contrário, um dédalo inextricável em que
ele se perde. A claridade do Sol há desaparecido sob a espessa
ramagem das árvores. Ele vagueia, sem saber para onde se dirige.
Afinal, depois de inauditas fadigas, chega aos confins da floresta, mas
extenuado, dilacerado pelos espinhos, machucado pelos pedrouços. Lá,
descobre de novo a estrada e prossegue a sua jornada, procurando
curar-se das feridas.
Mais adiante, segunda
floresta se lhe antolha, onde o esperam as mesmas dificuldades. Mas,
ele já possui um pouco de experiência e dela sai menos contundido.
Noutra, topa com um lenhador que lhe indica a direção que deve
seguir para se não transviar. A cada nova travessia, aumenta a sua
habilidade, de maneira que transpõe cada vez mais facilmente os
obstáculos. Certo de que à saída encontrará de novo a boa
estrada, firma-se nessa certeza; depois, já sabe orientar-se para
achá-la com mais facilidade. A estrada finaliza no cume de uma
montanha altíssima, donde ele descortina todo o caminho que
percorreu desde o ponto de partida. Vê também as diferentes
florestas que atravessou e se lembra das vicissitudes por que passou,
mas essa lembrança não lhe é penosa, porque chegou ao termo da
caminhada. É qual velho soldado que, na calma do lar doméstico,
recorda as batalhas a que assistiu. Aquelas florestas que pontilhavam
a estrada lhe são como que pontos negros sobre uma fita branca e ele
diz a si mesmo:
«Quando eu estava
naquelas florestas, nas primeiras, sobretudo como me pareciam longas
de atravessar! Figurava-se-me que nunca chegaria ao fim; tudo ao meu
derredor me parecia gigantesco e intransponível. E quando penso que,
sem aquele bondoso lenhador que me pôs no bom caminho, talvez eu
ainda lá estivesse! Agora, que contemplo essas mesmas florestas do
ponto onde me acho, como se me apresentam pequeninas! Afigura-se-me
que de um passo teria podido transpô-las; ainda mais, a minha vista
as penetra e lhes distingo os menores detalhes; percebo até os
passos em falso que dei.»
Diz-lhe então um ancião:
— «Meu filho, eis-te chegado ao termo da viagem; mas,
um repouso indefinido causar-te-á tédio mortal e tu te porias a ter
saudades das vicissitudes que experimentaste e que te davam atividade
aos membros e ao Espírito. Vês daqui grande número de viajantes na
estrada que percorreste e que, como
tu, correm o risco de transviar-se; tens experiência, nada mais
temas: vai-lhes ao encontro e procura com teus conselhos guiá-los, a
fim de que cheguem depressa.»
— Irei com alegria,
replica o nosso homem; entretanto, pergunto: por que não há uma
estrada direta desde o ponto de partida até aqui? Isso forraria aos
viajantes o terem de atravessar aquelas abomináveis florestas.
— Meu filho, retruca o
ancião, atenta bem e verás que muitos evitam a travessia de algumas
delas: são os que, tendo adquirido mais de pronto a experiência
necessária, sabem tomar um caminho mais direto e mais curto para
chegarem aqui. Essa experiência, porém, é fruto do trabalho que as
primeiras travessias lhes impuseram, de sorte que eles aqui aportam
em virtude do mérito próprio. Que é o que saberias, se por lá não
houvesses passado? A atividade que houveste de desenvolver, os
recursos de imaginação que precisaste empregar para abrir caminho
aumentaram os teus conhecimentos e desenvolveram a tua inteligência.
Sem que tal se desse, serias tão noviço quanto o eras à partida.
Ao demais, procurando safar-te dos tropeços, contribuíste para o
melhoramento das florestas que atravessaste. O que fizeste foi pouca
coisa, imperceptível mesmo; pensa, contudo, nos milhares de viajores
que fazem outro tanto e que, trabalhando para si mesmos, trabalham,
sem o perceberem, para o bem comum. Não é justo que recebam o
salário de suas penas no repouso de que gozam aqui? Que direito lhes
caberia a esse repouso, se nada houvessem feito ?
— Meu pai, responde o
viajor, numa das florestas, encontrei um homem que me
disse: «Na orla há um imenso abismo a ser transposto de um salto;
mas, de mil, apenas um só o consegue; todos os outros lhe caem no
fundo, numa fornalha ardente e ficam perdidos sem remissão. Esse
abismo eu não o vi.»
— Meu filho, é que ele
não existe, pois, do contrário, seria uma cilada abominável,
armada a todos os que para cá se dirigem. Bem sei que lhes cabe
vencer dificuldades, mas igualmente sei que cedo ou tarde as
vencerão. Se eu houvera criado impossibilidades para um só que
fosse, sabendo que esse sucumbiria, teria praticado uma crueldade,
que avultaria imenso, se atingisse a maioria dos viajores. Esse
abismo é uma alegoria, cuja explicação vais receber. Olha para a
estrada e observa os intervalos das florestas. Entre os viajantes,
alguns vês que caminham com passo lento e semblante jovial; vê
aqueles amigos, que se tinham perdido de vista nos labirintos da
floresta, como se sentem ditosos, por se haverem de novo encontrado
ao deixarem-na. Mas, a par deles, outros há que se arrastam
penosamente; estão estropiados e imploram a compaixão dos que
passam, pois que sofrem atrozmente das feridas de que por culpa
própria, se cobriram, atravessando os espinheiros. Curar-se-ão, no
entanto, e isso lhes constituirá uma lição da qual tirarão
proveito na floresta seguinte, donde sairão menos machucados. O
abismo simboliza os males que, eles experimentam e, dizendo que de
mil apenas um o transpõe, aquele homem teve razão, porquanto enorme
é o número dos imprudentes; errou, porém, quando disse que aquele
que ali cair não mais sairá. Para chegar a mim, o que tombou
encontra sempre uma saída. Vai, meu filho, vai mostrar essa saída
aos que estão no fundo do abismo; vai amparar os feridos que se
arrastam pela estrada e mostrar o caminho aos que se embrenharam
pelas florestas.
A estrada é a imagem da
vida espiritual da alma e em cujo percurso esta é mais ou menos
feliz. As florestas são as existências corpóreas, em que ela
trabalha pelo seu adiantamento, ao mesmo tempo que na obra geral. O
caminheiro que chega ao fim e que volta para ajudar os que vêm
atrasados figura os anjos guardiães, os missionários de Deus, que
se sentem venturosos em vê-lo, como, também, no desdobrarem suas
atividades para fazer o bem e obedecer ao supremo Senhor.
Obras Póstumas
---
VIDA
E REENCARNAÇÃO
Definição
verdadeira
Que
nos aclara e consola:
Na
Terra, o corpo é a carteira
Que
nos sustenta na escola.
Narcisa
Amália
Psicografia
Chico Xavier
Livro
Tesouro De Alegria
Essa é mais uma profunda, lógica e simples explicação da Vida, como ela é de fato, a lei de Reencarnação, a Justiça de DEUS. Dificilmente observamos nos textos de Kardec, imagens como a da floresta, como uma "história", mas nesse caso o codificador utilizou-se muito claramente e assim podemos entender melhor como tudo funciona, isso também deve nos provocar um acalmamento interior, esperança, e resignação para o futuro.
ResponderExcluir