Tema da semana
“Os sãos não têm
necessidade de médico”
de 19/10/2012 a
25/11/2012
Irmão X
Angustiado, o Homem
enfermo invocou a Proteção do Cristo e clamou em lágrimas
copiosas:
– Senhor, ampara-me o
coração desalentado no círculo das provas! Esgotaram-se-me os
recursos para a resistência... Não posso mais! Minhas noites são
prolongadas vigílias, repletas de dor, e meus dias constituem longas
horas de aflição permanente! A dor lacera-me as carnes e
desarticula-me os ossos... Compadece-te, Senhor meu! Desce um raio de
tua divina luz que me restaure a força física, e me reerga o
coração humilhado! Desiludido de todos os processos de cura,
mobilizados na Terra, volto-me para o Céu, esperando-te a
inesgotável misericórdia! ajuda-me, Pastor do Bem!
Vê os meus sofrimentos e
auxilia-me!...
De joelhos e braços
abertos, o peregrino soluçava, contemplando o firmamento.
Ouviu Jesus a oração e
enviou-lhe o Anjo da Saúde, que desceu, bondoso e prestativo,
surgindo aos olhos deslumbrados do infeliz enfermo.
Em êxtase, o doente
fitou o mensageiro e suplicou :
– Emissário do Médico
Divino, lava-me as feridas dolorosas, levanta-me o espírito abatido!
Há muitos anos sou um miserável sofredor, embora a minha confiança
no Pai de Infinita Bondade! De corpo chagado e apodrecido, sinto que
a esperança e a crença desertaram de minhalma! socorre-me, por
piedade, caridoso emissário do Céu!
O gênio tutelar
afagou-lhe a fronte, compassivo, e exclamou:
– Meu amigo, põe a
consciência nos lábios em oração e responde-me! Tens vivido de
acordo com a Vontade de Deus, fugindo aos caprichos do coração?
Viveste, até agora, amando o Senhor Supremo, acima de todas as
coisas, e querendo ao próximo como a ti mesmo? Dedicaste teu corpo e
tuas faculdades à execução das divinas leis ?
Presa do antigo hábito
de fugir à verdade, o Homem quis proferir qualquer frase tendente a
desculpar-se; entretanto, a presença do emissário sublime
empolgava-lhe o ser e não conseguia furtar-se ao império absoluto
da consciência. Dominado pela realidade, respondeu em soluços :
– Não!... ainda não
servi às leis do Senhor como deveria... Contudo, Anjo Bom,
compadece-te de mim, a enfermidade consome os meus dias, o sofrimento
devora-me!
O enviado pousou a destra
na fronte do mísero, como se intentasse arrancar-lhe a verdade do
fundo do coração, e interrogou:
– Estarás, porém,
disposto a esquecer, de imediato, o pretérito criminoso?
Desculparás, fraternalmente, sem qualquer sombra de hesitação, a
todos aqueles que te desejam o mal? auxiliarás o inimigo?
O enfermo dirigiu ao
preposto celeste um olhar de terrível angústia, e porque nada
respondesse, o mensageiro continuou interrogando:
– Perdoarás sempre,
esquecendo ingratidões, injúrias e pedradas? Recomendarás os teus
adversários à bênção do Todo Poderoso, reconhecendo que eles são
mais infelizes que tu mesmo, pela ignorância com que testemunham?
Exercerás a piedade,
beneficiando as mãos que te ferem e olvidarás, sem esforço, a boca
que calunia?
Compelido pelas forças
insofreáveis da consciência, o enfermo respondeu, sem trair a
verdade:
– Infelizmente, ainda
não posso...
– Não emitirás
Pensamentos desarmônicos, ante a felicidade do próximo? – indagou
o emissário, afável e benevolente – partilharás a alegria do
vizinho e a prosperidade do amigo, como se te pertencessem também?
Ajudarás ao irmão mais feliz, na consolidação da ventura que lhe
coroa a existência?
O mendigo da saúde
recordou suas lutas interiores, junto daqueles que lhe pareciam mais
venturosos, e respondeu, sincero:
– Não posso ainda...
– Terás bastante
disposição – prosseguiu afetuosamente o interlocutor – para
manter viva a própria esperança? compreendendo a paciência de
Deus, que nos aguarda a iluminação, há milênios incontáveis,
decidir-te-ás a esperar, sem revolta, o entendimento dos teus irmãos
de luta, por alguns anos? Saberás calar a desesperação, a fim de
auxiliar em nome do Pai Altíssimo, mobilizando as forcas que te
foram confiadas?
O desventurado suspirou e
disse com tristeza:
– Ainda não me é
possível proceder assim...
Após intervalo mais
longo, o Anjo voltou a interrogar:
– Cultivaras o
silêncio, quando a leviandade e a calúnia espalharem palavras
loucas em torno de teu corarão? Defenderás a saúde, evitando as
reações invisíveis de pessoas que poderias ofender com as falsas e
delituosas apreciações verbais?
– Ainda não sigo
semelhante caminho! – exclamou o infortunado,
– Poderás viver –
continuava o mensageiro – no legítimo respeito à Natureza,
conservando o teu vaso carnal de manifestações na sublime posição
de equilíbrio, através da temperança, e cumprindo com fidelidade o
programa de serviço, em beneficio de ti mesmo e dos semelhantes?
Experimentas o prazer de ser útil, sinceramente despreocupado das
atitudes alheias de gratidão ou recompensa?
– Ainda não! –
murmurou o interpelado em tom angustioso.
O emissário envolveu o
infeliz num olhar de compaixão infinita e acrescentou:
– Oh! meu amigo, ainda
é cedo para deprecares o socorro dos mensageiros da saúde! se ainda
não sabes viver, perdoar, esperar, compreender, ajudar e servir, de
acordo com a Vontade do Altíssimo, ainda lutarás com a enfermidade,
por muito tempo. Por enquanto, não peças vantagens que não
saberias receber!
Roga ao Senhor te conceda
a energia necessária para que te afeiçoes à lei do equilíbrio e
às exigências da reflexão!
Em seguida, o emissário
endereçou-lhe carinhoso gesto de adeus. O infeliz, entretanto,
buscando retê-la, exclamou em soluços:
– Oh! enviado do Céu,
confiarei em Jesus!
O Anjo contemplou-o,
bondoso, e respondeu ternamente:
– Sim, eu sei. Isto,
porém, não basta.
É necessário que Jesus
também possa confiar em ti...
E afastou-se, para dar
conta de sua missão, nas esferas mais altas
Livro “Lázaro
Redivivo”. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
RUMO CERTO
Queres alívio,
sossego,
No coração
sofredor...
A providência
primeira:
Mais serviço, mais
amor.
Casemiro Cunha
Pássaros
Humanos - Francisco Cândido Xavier
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