Tema
da semana
“Causas
anteriores das aflições”
de
18/03/2013 a 24/03/2013
Allan
Kardec
6.
Mas, se há males nesta vida cuja causa primária é o homem, outros
há também aos quais, pelo menos na aparência, ele é completamente
estranho e que parecem atingi-lo como por fatalidade. Tal, por
exemplo, a perda de entes queridos e a dos que são o amparo da
família. Tais, ainda, os acidentes que nenhuma previsão poderia
impedir; os reveses da fortuna, que frustram todas as precauções
aconselhadas pela prudência; os flagelos naturais, as enfermidades
de nascença, sobretudo as que tiram a tantos infelizes os meios de
ganhar a vida pelo trabalho: as deformidades, a idiotia, o
cretinismo, etc.
Os
que nascem nessas condições, certamente nada hão feito na
existência atual para merecer, sem compensação, tão triste sorte,
que não podiam evitar, que são impotentes para mudar por si mesmos
e que os põe à mercê da comiseração pública. Por que, pois,
seres tão desgraçados, enquanto, ao lado deles, sob o mesmo teto,
na mesma família, outros são favorecidos de todos os modos?
Que
dizer, enfim, dessas crianças que morrem em tenra idade e da vida só
conheceram sofrimentos? Problemas são esses que ainda nenhuma
filosofia pôde resolver, anomalias que nenhuma religião pôde
justificar e que seriam a negação da bondade, da justiça e da
providência de Deus, se se verificasse a hipótese de ser criada a
alma ao mesmo tempo que o corpo e de estar a sua sorte
irrevogavelmente determinada após a permanência de alguns instantes
na Terra. Que fizeram essas almas, que acabam de sair das mãos do
Criador, para se verem, neste mundo, a braços com tantas misérias e
para merecerem no futuro uma recompensa ou uma punição qualquer,
visto que não hão podido praticar nem o bem, nem o mal?
Todavia,
por virtude do axioma segundo o qual todo efeito tem uma causa, tais
misérias são efeitos que hão de ter uma causa e, desde que se
admita um Deus justo, essa causa também há de ser justa. Ora, ao
efeito precedendo sempre a causa, se esta não se encontra na vida
atual, há de ser anterior a essa vida, isto é, há de estar numa
existência precedente. Por outro lado, não podendo Deus punir
alguém pelo bem que fez, nem pelo mal que não fez, se somos
punidos, é que fizemos o mal; se esse mal não o fizemos na presente
vida, tê-lo-emos feito noutra. É uma alternativa a que ninguém
pode fugir e em que a lógica decide de que parte se acha a justiça
de Deus.
O
homem, pois, nem sempre é punido, ou punido completamente, na sua
existência atual; mas não escapa nunca às consequências de suas
faltas. A prosperidade do mau é apenas momentânea; se ele não
expiar hoje, expiará amanhã, ao passo que aquele que sofre está
expiando o seu passado. O infortúnio que, à primeira vista, parece
imerecido tem sua razão de ser, e aquele que se encontra em
sofrimento pode sempre dizer: “Perdoa-me, Senhor, porque pequei.”
7.
Os sofrimentos devidos a causas anteriores à existência presente,
como os que se originam de culpas atuais, são muitas vezes a
consequência da falta cometida, isto é, o homem, pela ação de uma
rigorosa justiça distributiva, sofre o que fez sofrer aos outros. Se
foi duro e desumano, poderá ser a seu turno tratado duramente e com
desumanidade; se foi orgulhoso, poderá nascer em humilhante
condição; se foi avaro, egoísta, ou se fez mau uso de suas
riquezas, poderá ver-se privado do necessário; se foi mau filho,
poderá sofrer pelo procedimento de seus filhos, etc.
Assim
se explicam pela pluralidade das existências e pela destinação da
Terra, como mundo expiatório, as anomalias que apresenta a
distribuição da ventura e da desventura entre os bons e os maus
neste planeta. Semelhante anomalia, contudo, só existe na aparência,
porque considerada tão-só do ponto de vista da vida presente.
Aquele que se elevar, pelo pensamento, de maneira a apreender toda
uma série de existências, verá que a cada um é atribuída a parte
que lhe compete, sem prejuízo da que lhe tocará no mundo dos
Espíritos, e verá que a justiça de Deus nunca se interrompe.
Jamais
deve o homem olvidar que se acha num mundo inferior, ao qual somente
as suas imperfeições o conservam preso. A cada vicissitude,
cumpre-lhe lembrar -se de que, se pertencesse a um mundo mais
adiantado, isso não se daria e que só de si depende não voltar a
este, trabalhando por se melhorar.
8.
As tribulações podem ser impostas a espíritos endurecidos, ou
extremamente ignorantes, para levá-los a fazer uma escolha com
conhecimento de causa. Os Espíritos penitentes, porém, desejosos de
reparar o mal que hajam feito e de proceder melhor, esses as escolhem
livremente. Tal o caso de um que, havendo desempenhado mal sua
tarefa, pede lha deixem recomeçar, para não perder o fruto de seu
trabalho. As tribulações, portanto, são, ao mesmo tempo, expiações
do passado, que recebe nelas o merecido castigo, e provas com relação
ao futuro, que elas preparam. Rendamos graças a Deus, que, em sua
bondade, faculta ao homem reparar seus erros e não o condena
irrevogavelmente por uma primeira falta.
9.
Não há crer, no entanto, que todo sofrimento suportado neste mundo
denote a existência de uma determinada falta. Muitas vezes são
simples provas buscadas pelo Espírito para concluir a sua depuração
e ativar o seu progresso. Assim, a expiação serve sempre de prova,
mas nem sempre a prova é uma expiação. Provas e expiações,
todavia, são sempre sinais de relativa inferioridade, porquanto o
que é perfeito não precisa ser provado. Pode, pois, um Espírito
haver chegado a certo grau de elevação e, nada obstante, desejoso
de adiantar -se mais, solicitar uma missão, uma tarefa a executar,
pela qual tanto mais recompensado será, se sair vitorioso, quanto
mais rude haja sido a luta. Tais são, especialmente, essas pessoas
de instintos naturalmente bons, de alma elevada, de nobres
sentimentos inatos, que parece nada de mau haverem trazido de suas
precedentes existências e que sofrem, com resignação toda cristã,
as maiores dores, somente pedindo a Deus que as possam suportar sem
murmurar. Pode-se, ao contrário, considerar como expiações as
aflições que provocam queixas e impelem o homem à revolta contra
Deus.
Sem
dúvida, o sofrimento que não provoca queixumes pode ser uma
expiação; mas, é indício de que foi buscada voluntariamente,
antes que imposta, e constitui prova de forte resolução, o que é
sinal de progresso.
10.
Os Espíritos não podem aspirar à completa felicidade, enquanto não
se tenham tornado puros: qualquer mácula lhes interdita a entrada
nos mundos ditosos. São como os passageiros de um navio onde há
pestosos, aos quais se veda o acesso à cidade a que aportem, até
que se hajam expurgado. Mediante as diversas existências corpóreas
é que os Espíritos se vão expungindo, pouco a pouco, de suas
imperfeições. As provações da vida os fazem adiantar -se, quando
bem suportadas. Como expiações, elas apagam as faltas e purificam.
São o remédio que limpa as chagas e cura o doente. Quanto mais
grave é o mal, tanto mais enérgico deve ser o remédio. Aquele,
pois, que muito sofre deve reconhecer que muito tinha a expiar e deve
regozijar -se à ideia da sua próxima cura. Dele depende, pela
resignação, tornar proveitoso o seu sofrimento e não lhe estragar
o fruto com as suas impaciências, visto que, do contrário, terá de
recomeçar.
CAUSA
Põe
a tua pena a serviço
Da
grande causa do bem.
Vive
a verdade e o direito,
Terás
o auxílio do Além.
Casimiro
Cunha
Livro
“Dicionário da Alma”, psicografia de
Francisco
Cândido Xavier – Autores Diversos.
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