Tema
da semana
“Ação
da prece, transmissão do pensamento”
de
29/04/2013 a 05/05/2013
Allan
Kardec
9.
A prece é uma invocação, mediante a qual o homem entra, pelo
pensamento, em comunicação com o ser a quem se dirige. Pode ter por
objeto um pedido, um agradecimento, ou uma glorificação. Podemos
orar por nós mesmos ou por outrem, pelos vivos ou pelos mortos. As
preces feitas a Deus escutam-nas os Espíritos incumbidos da execução
de suas vontades; as que se dirigem aos bons Espíritos são
reportadas a Deus. Quando alguém ora a outros seres que não a
Deus, fá-lo recorrendo a intermediários, a intercessores, porquanto
nada sucede sem a vontade de Deus.
10.
O Espiritismo torna compreensível a ação da prece, explicando o
modo de transmissão do pensamento, quer no caso em que o ser a quem
oramos acuda ao nosso apelo, quer no em que apenas lhe chegue o nosso
pensamento. Para apreendermos o que ocorre em tal circunstância,
precisamos conceber mergulhados no fluido universal, que ocupa o
espaço, todos os seres, encarnados e desencarna- dos, tal qual nos
achamos, neste mundo, dentro da atmosfera. Esse fluido recebe da
vontade uma impulsão; ele é o veículo do pensamento, como o
ar o é do som, com a diferença de que as vibrações do ar são
circunscritas, ao passo que as do fluido universal se estendem ao
infinito. Dirigido, pois, o pensamento para um ser qualquer, na Terra
ou no espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, uma
corrente fluídica se estabelece entre um e outro, transmitindo de um
ao outro o pensamento, como o ar transmite o som.
A
energia da corrente guarda proporção com a do pensamento e da
vontade. É assim que os Espíritos ouvem a prece que lhes é
dirigida, qualquer que seja o lugar onde se encontrem; é assim que
os Espíritos se comunicam entre si, que nos transmitem suas
inspirações, que relações se estabelecem a distância entre
encarnados.
Essa
explicação vai, sobretudo, com vistas aos que não compreendem a
utilidade da prece puramente mística. Não tem por fim materializar
a prece, mas tornar-lhe inteligíveis os efeitos, mostrando que pode
exercer ação direta e efetiva. Nem por isso deixa essa ação de
estar subordinada à vontade de Deus, juiz supremo em todas as
coisas, único apto a torná-la eficaz.
11.
Pela prece, obtém o homem o concurso dos bons Espíritos que acorrem
a sustentá-lo em suas boas resoluções e a inspirar -lhe ideias
sãs. Ele adquire, desse modo, a força moral necessária a vencer as
dificuldades e a volver ao caminho reto, se deste se afastou. Por
esse meio, pode também desviar de si os males que atrairia pelas
suas próprias faltas. Um homem, por exemplo, vê arruinada a sua
saúde, em consequência de excessos a que se entregou, e arrasta,
até o termo de seus dias, uma vida de sofrimento: terá ele o
direito de queixar-se, se não obtiver a cura que deseja? Não, pois
que houvera podido encontrar na prece a força de resistir às
tentações.
12.
Se em duas partes se dividirem os males da vida, uma constituída dos
que o homem não pode evitar e a outra das tribulações de que ele
se constituiu a causa primária, pela sua incúria ou por seus
excessos (cap. V, nº 4), ver-se-á que a segunda, em quantidade,
excede de muito à primeira. Faz-se, portanto, evidente que o homem é
o autor da maior parte das suas aflições, às quais se pouparia, se
sempre obrasse com sabedoria e prudência.
Não
menos certo é que todas essas misérias resultam das nossas
infrações às leis de Deus e que, se as observássemos
pontualmente, seríamos inteiramente ditosos. Se não
ultrapassássemos o limite do necessário, na satisfação das nossas
necessidades, não apanharíamos as enfermidades que resultam dos
excessos, nem experimentaríamos as vicissitudes que as doenças
acarretam. Se puséssemos freio à nossa ambição, não teríamos de
temer a ruína; se não quiséssemos subir mais alto do que podemos,
não teríamos de recear a queda; se fôssemos humildes, não sofre-
ríamos as decepções do orgulho abatido; se praticássemos a lei de
caridade, não seríamos maldizentes, nem invejosos, nem ciosos, e
evitaríamos as disputas e dissensões; se mal a ninguém fizéssemos,
não houvéramos de temer as vinganças, etc.
Admitamos
que o homem nada possa com relação aos outros males; que toda prece
lhe seja inútil para livrar -se deles; já não seria muito o ter a
possibilidade de ficar isento de todos os que decorrem da sua maneira
de proceder? Ora, aqui, facilmente se concebe a ação da prece,
visto ter por efeito atrair a salutar inspiração dos Espíritos
bons, granjear deles força para resistir aos maus pensamentos, cuja
realização nos pode ser funesta. Nesse caso, o que eles fazem não
é afastar de nós o mal, porém, sim, desviar-nos a nós do mau
pensamento que nos pode causar dano; eles em nada obstam ao
cumprimento dos decretos de Deus, nem suspendem o curso das leis da
Natureza; apenas evitam que as infrinjamos, dirigindo o nosso
livre-arbítrio. Agem, contudo, à nossa revelia, de maneira
imperceptível, para nos não subjugar a vontade. O homem se acha
então na posição de um que solicita bons conselhos e os põe em
prática, mas conservando a liberdade de segui-los, ou não.
Quer Deus que seja assim, para que aquele tenha a responsabilidade
dos seus atos e o mérito da escolha entre o bem e o mal. É isso o
que o homem pode estar sempre certo de receber, se o pedir com
fervor, sendo, pois, a isso que se podem, sobre- tudo aplicar estas
palavras: “Pedi e obtereis”.
Mesmo
com sua eficácia reduzida a essas proporções, já não traria a
prece resultados imensos? Ao Espiritismo fora reservado provar -nos a
sua ação, com o nos revelar as relações existentes entre o mundo
corpóreo e o mundo espiritual. Os efeitos da prece, porém, não se
limitam aos que vimos de apontar.
Recomendam-na
todos os Espíritos. Renunciar alguém à prece é negar a bondade de
Deus; é recusar, para si, a sua assistência e, para com os outros,
abrir mão do bem que lhes pode fazer.
13.
Acedendo ao pedido que se lhe faz, Deus muitas vezes objetiva
recompensar a intenção, o devotamento e a fé daquele que ora. Daí
decorre que a prece do homem de bem tem mais merecimento aos olhos de
Deus e sempre mais eficácia, porquanto o homem vicioso e mau não
pode orar com o fervor e a confiança que somente nascem do
sentimento da verdadeira piedade. Do coração do egoísta, do
daquele que apenas de lábios ora, unicamente saem palavras, nunca os
ímpetos de caridade que dão à prece todo o seu poder. Tão
claramente isso se compreende que, por um movimento instintivo, quem
se quer recomendar às preces de outrem fá-lo de preferência às
daqueles cujo proceder, sente-se, há de ser mais agradável a Deus,
pois que são mais prontamente ouvidos.
14.
Por exercer a prece uma como ação magnética, poder-se-ia supor que
o seu efeito depende da força fluídica. Assim, entretanto, não é.
Exercendo sobre os homens essa ação, os Espíritos, em sendo
preciso, suprem a insuficiência daquele que ora, ou agindo
diretamente em seu nome, ou dando-lhe momentaneamente uma força
excepcional, quando o julgam digno dessa graça, ou que ela lhe pode
ser proveitosa.
O
homem que não se considere suficientemente bom para exercer salutar
influência, não deve por isso abster-se de orar a bem de outrem,
com a ideia de que não é digno de ser escutado. A consciência da
sua inferioridade constitui uma prova de humildade, grata sempre a
Deus, que leva em conta a intenção caridosa que o anima. Seu fervor
e sua confiança são um primeiro passo para a sua conversão ao bem,
conversão que os Espíritos bons se sentem ditosos em incentivar.
Repelida só o é a prece do orgulhoso que deposita fé no seu poder
e nos seus merecimentos e acredita ser-lhe possível sobrepor-se à
vontade do Eterno.
15.
Está no pensamento o poder da prece, que por nada depende nem das
palavras, nem do lugar, nem do momento em que seja feita. Pode-se,
portanto, orar em toda parte e a qualquer hora, a sós ou em comum. A
influência do lugar ou do tempo só se faz sentir nas circunstâncias
que favoreçam o recolhimento. A prece em comum tem ação mais
poderosa, quando todos os que oram se associam de coração a um
mesmo pensamento e colimam o mesmo objetivo, porquanto é como se
muitos clamassem juntos e em uníssono. Mas, que importa seja grande
o número de pessoas reunidas para orar, se cada uma atua
isoladamente e por conta própria?! Cem pessoas juntas podem orar
como egoístas, enquanto duas ou três, ligadas por uma mesma
aspiração, orarão quais verdadeiros irmãos em Deus, e mais força
terá a prece que lhe dirijam do que a das cem outras. (Cap. XXVIII
nos 4 e 5.)
PRECE
A
claridade da prece, tudo se transforma
em
torno de nossos passos. O sofrimento
passa
a ser purificação, como a noite é a
promessa
do dia.
Icléia
Do
Livro “Dicionário da Alma”
psicografia
Francisco Cândido Xavier
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