Tema
da semana
“O
Suicídio e a Loucura
de
06/05/2013 a 12/05/2013
Raimundo
Teixeira
Na
noite de 26 de abril de 1956, foi trazido à comunicação o Espírito
Raimundo Teixeira, que sofreu aflitiva prova na alienação mental.
Os
apontamentos do visitante, que foram alinhados sob a legenda “loucura
e resgate”, valem igualmente, a nosso ver, por precioso estudo no
tema “reencarnação e justiça”.
Conduzido
ao recinto por devotados Instrutores Espirituais, recomendam eles
algo vos diga de minhas provas.
Entretanto,
minhas dificuldades são quase insuperáveis para relacionar com a
palavra os tremendos episódios de minha terrível experiência.
Sou
uma alma pobre que ainda convalesce de aflitiva loucura no campo
físico.
Não
creio que o verbo articulado possa exprimir com segurança tudo
aquilo que expresse meus estados emocionais.
Ainda
assim, posso garantir-vos que tenho atravessado inimagináveis
suplícios.
Por
mais de vinte anos, fui vítima de flagelações e tormentos que
culminaram em transes de pavoroso desespero, não pelas dores de
origem material que me dilaceravam o corpo, mas sim porque, na
condição de alienado mental, guardava, no fundo de meu ser, a
consciência de todos os meus atos, embora não pudesse governar meus
infelizes impulsos.
Perambulei
no mundo à maneira de alguém que se visse sob o guante invencível
de Inteligências perversas, como pode acontecer a um homem
irremediavelmente prisioneiro de malfeitores, em sua própria
moradia.
Por
mais orasse, por mais anelasse o bem e por mais quisesse comandar a
própria existência, os terríveis carcereiros das minhas atividades
mentais compeliam-me a atitudes deploráveis que, de início, me
angariaram o desafeto dos familiares mais queridos ao coração.
Era
constrangido a práticas ignominiosas, impelido a pronunciar palavras
que me afastavam toda e qualquer simpatia e a perpetrar atos que
provocavam, em torno de mim, repugnância e temor.
E,
por essa razão, relegado à atmosfera deprimente dos loucos, nela
padeci não apenas os mais dolorosos processos de tratamento médico,
como sejam, a insulinoterapia, a malarioterapia e o eletrochoque, mas
também os bofetões de enfermeiros desapiedados e o poste de
martírio, a camisa de força e a solidão.
Isso
tudo sofri com a tácita aprovação de minha consciência, pois no
íntimo me reconhecia culpado.
Colocava-me
na situação de quantos me assistiam caridosamente e concluía que,
na posição deles, infligiria a mim mesmo os mais duros castigos, de
vez que os ocupantes de meu campo mental me impeliam à delinquência
e ao desrespeito, ao insulto e à viciação.
Chorei
tanto, que acredito haverem as lágrimas aniquilado os meus olhos
encadeados a medonhas alucinações.
Amarguei
tanto a vida que o sofrimento por fim me venceu diante das
testemunhas implacáveis de minha dor – testemunhas que me acusavam
sem que ninguém as ouvisse, que me espancavam sem que ninguém lhes
presenciasse os assaltos, que me acompanhavam dia e noite sem que
ninguém lhes pressentisse a presença.
E
tamanho foi o meu infortúnio que, em me libertando do cárcere da
prova, desarvorado e desiludido, pedi à Providência Divina, através
de mil modos, que uma explicação me aliviasse o torturado
raciocínio, porquanto, ainda mesmo fora do corpo carnal, a malta de
perseguidores continuava assacando contra mim gritos soezes, tentando
escravizar-me de novo a mente desditosa...
Foi,
então, que, ao socorro de Instrutores Amigos, me vi em surpreendente
retorno à condição em que me achava antes da internação na carne
para a terrível provação da loucura...
Identifiquei-me
em pleno espaço, desolado e errante, cercado por centenas de
verdugos que me buscavam o Espírito, impondo-me à visão tremendos
quadros – quadros esses que, pouco a pouco, me reconduziram ao
posto que eu deixara anteriormente, através da morte...
Sim,
eu havia sido um juiz que abusara da dignidade do meu cargo.
Vi-me
envergando a toga do magistrado, que me competia preservar impoluta,
desfrutando invejável eminência social na Terra, mas enceguecido
pelos interesses do grupo político a que me filiara, com desvairada
paixão.
Torcia
o direito para quase todos aqueles que me buscavam, tangidos pelas
circunstâncias, conspurcando o tribunal que me respeitava,
transformando-o em ominoso instrumento de crime e revolta,
perversidade e miséria, desânimo e desespero, porque as minhas
sentenças forjavam todos esses males.
Mas
não consegui ludibriar a verdadeira justiça.
Deixando
o veículo físico, as minhas vítimas se converteram em meus juízes
e todas aquelas que me não podiam perdoar seguiram-me os passos na
esfera espiritual, tecendo-me a cadeia de tormentos inomináveis, a
explodirem no pavoroso desequilíbrio com que ressurgi entre as
criaturas humanas, na existência última.
Atravessei
uma infância atormentada...
Para
os médicos, eu não passava de pobre exemplar da esquizofrenia.
Alcancei
a juventude tumultuária e triste dos que não possuem qualquer
estabilidade de raciocínio para a fixação dos bons propósitos, e,
tão logo atingi a maioridade, meus implacáveis acusadores
senhorearam-me a estrada, conturbando-me a vida, e, desse modo, como
alienado mental fui submetido ao julgamento de todos eles,
experimentando, por mais de quatro lustros, flagelações e torturas
que não posso desejar aos próprios Espíritos satanizados nas
trevas.
Sou,
assim, um doente desventurado procurando restaurar a si mesmo, depois
de terrível inferno no coração.
Não
acredito que a minha palavra possa trazer qualquer apontamento que
induza ao consolo.
Entretanto,
o juiz louco que fui, o juiz que impôs a si próprio horrenda
enfermidade da alma, pode oferecer alguma advertência aos que
manobram com a autoridade no mundo e a todos os que ainda podem
recuar nas deliberações infelizes!...
Diante
de mim vibra o Tempo, o grande julgador...
Possa
a Divina Compaixão conceder-me com esse juiz silencioso, cujas
palavras para nós são as horas e os dias do mundo terrestre, a
oportunidade de ressarcir minhas faltas, porque, por enquanto, o juiz
que dementou a si mesmo apenas ingressou na fase inicial do reajuste,
da qual se transferirá para o campo expiatório, onde, face a face
com as suas antigas vítimas, será obrigado a solver seus clamorosos
débitos, ceitil por ceitil.
Deus
seja louvado!...
Raimundo
Teixeira
Do
livro Vozes do Grande Além. Psicografia de Francisco Cândido Xavier
O
desequilíbrio mental é sempre uma provação difícil e dolorosa.
Essa realidade, contudo, podendo representar o resgate de uma dívida
do pretérito escabroso e desconhecido pode, igualmente, constituir
uma resultante da imprevidência de hoje, no presente que passa,
fazendo necessária, acima de todas as exortações, aquela que
recomenda, a oração e a vigilância
Livro O Consolador
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