Tema
da semana
"Causas
Anteriores das Aflições"
de
04/11/2013 a 10/11/2013
Allan
Kardec
6 –
Mas se há males, nesta vida, de que o homem é a própria causa, há
também outros que, pelo menos em aparência, são estranhos à sua
vontade e parecem golpeá-lo por fatalidade. Assim, por exemplo, a
perda de entes queridos e dos que sustentam a família. Assim também
os acidentes que nenhuma previdência pode evitar; os revezes da
fortuna, que frustram todas as medidas de prudência; os flagelos
naturais; e ainda as doenças de nascença, sobretudo aquelas que
tiram aos infelizes a possibilidade de ganhar a vida pelo trabalho:
as deformidades, a idiota, a imbecilidade etc.
Os
que nascem nessas condições, nada fizeram, seguramente, nesta vida,
para merecer uma sorte triste, sem possibilidade de compensação, e
que eles não puderam evitar, sendo impotentes para modificá-las e
ficando à mercê da comiseração pública. Por que, pois, esses
seres tão desgraçados, enquanto ao seu lado, sob o mesmo teto e na
mesma família, outros se apresentam favorecidos em todos os
sentidos?
Que
dizer, por fim, das crianças que morrem em tenra idade e só
conheceram da vida o sofrimento? Problemas, todos esses, que nenhuma
filosofia resolveu até agora, anomalias que nenhuma religião pode
justificar, e que seriam a negação da bondade, da justiça e da
providência de Deus, segundo a hipótese da criação da alma ao
mesmo tempo em que o corpo, e da fixação irrevogável da sua sorte
após a permanência de alguns instantes na Terra. Que fizeram elas,
essas almas que acabam de sair das mãos do Criador, para sofrerem
tantas misérias no mundo, e receberem, no futuro, uma recompensa ou
uma punição qualquer, se não puderam seguir nem o bem nem o mal?
Entretanto,
em virtude do axioma de que todo efeito tem uma causa, essas
misérias são efeitos que devem ter a sua causa, e desde que se
admita a existência de um Deus justo, essa causa deve ser justa. Ora
a causa sendo sempre anterior ao efeito, e desde que não se encontra
na vida atual, é que pertence a uma existência precedente. Por
outro lado, Deus não podendo punir pelo bem o que se fez, nem pelo
mal que não se fez, se somos punidos, é que fizemos o mal. E se não
fizemos o mal nesta vida, é que o fizemos em outra. Esta é uma
alternativa a que não podemos escapar, e na qual a lógica nos diz
de que lado está à justiça de Deus.
O
homem não é, portanto, punido sempre, ou completamente punido, na
sua existência presente, mas jamais escapa às conseqüências de
suas faltas. A prosperidade do mau é apenas momentânea, e se ele
não expia hoje, expiará amanhã, pois aquele que sofre está sendo
submetido à expiação do seu próprio passado. A desgraça que, à
primeira vista, parece imerecida, tem portanto a sua razão de ser, e
aquele que sofre pode sempre dizer: “Perdoai-me, Senhor, porque eu
pequei”.
7 –
Os sofrimentos produzidos por causas anteriores são sempre, como os
decorrentes de causas atuais, uma conseqüência natural da própria
falta cometida. Quer dizer que, em virtude de uma rigorosa justiça
distributiva, o homem sofre aquilo que fez os outros sofrerem. Se ele
foi duro e desumano, poderá ser, por sua vez, tratado com dureza e
desumanidade; se foi orgulhoso, poderá nascer numa condição
humilhante; se foi avarento, egoísta, ou se empregou mal a sua
fortuna, poderá ver-se privado do necessário; se foi mau filho,
poderá sofrer com os próprios filhos; e assim por diante.
É
dessa maneira que se explicam, pela pluralidade das existências e
pelo destino da Terra, como mundo expiatório que é, as anomalias da
distribuição da felicidade e da desgraça, entre os bons e os maus
neste mundo. Essa anomalia é apenas aparente, porque só encaramos o
problema em relação à vida presente; mas quando nos elevamos, pelo
pensamento, de maneira a abranger uma série de existências,
compreendemos que a cada um é dado o que merece, sem prejuízo do
que lhe cabe no Mundo dos Espíritos, e que a justiça de Deus nunca
falha.
O
homem não deve esquecer-se jamais de que está num mundo inferior,
onde só é retido pelas suas imperfeições. A cada vicissitude,
deve lembrar que,se estivesse num mundo mais avançado, não teria de
sofrê-la, e que dele depende não voltar a este mundo, desde que
trabalhe para se melhorar.
8 –
As tribulações da vida podem ser impostas aos Espíritos
endurecidos, ou demasiado ignorantes para fazerem uma escolha
consciente, mas são livremente escolhidos e aceitas pelos Espíritos
arrependidos, que querem reparar o mal que fizeram e tentar
fazer melhor. Assim é aquele que, tendo feito mal a sua tarefa, pede
para recomeçá-la, a fim de não perder as vantagens do seu
trabalho. Essas tribulações, portanto, são ao mesmo tempo
expiações do passado, que castigam, e provas para o futuro, que
preparam. Rendamos graças a Deus que, na sua bondade, concede aos
homens a faculdade da reparação, e não o condena irremediavelmente
pela primeira falta.
9 –
Não se deve crer, entretanto, que todo sofrimento por que se passa
neste mundo seja necessariamente o indício de uma determinada falta;
trata-se freqüentemente de simples provas escolhidas pelo Espírito,
para acabar a sua purificação e acelerar o seu adiantamento. Assim,
a expiação serve sempre de prova, mas a prova nem sempre é uma
expiação. Mas provas e expiações são sempre sinais de uma
inferioridade relativa, pois aquele que é perfeito não precisa ser
provado. Um Espírito pode, portanto, ter conquistado um certo grau
de elevação, mas querendo avançar mais, solicita uma missão, uma
tarefa, pela qual será tanto mais recompensado, se sair vitorioso
quanto mais penosa tiver sido a sua luta. Esses são, mais
especialmente, os casos das pessoas de tendência naturalmente boas,
de alma elevada, de sentimentos nobres inatos, que parecem nada
trazer de mal de sua precedente existência, e que sofrem com
resignação cristã as maiores dores, pedindo forças a Deus para
suportá-las sem reclamar. Podem-se, ao contrário, considerar como
expiações as aflições que provocam reclamações e levam à
revolta contra Deus.
O
sofrimento que não provoca murmurações pode ser, sem dúvida, uma
expiação, mas indica que foi antes escolhido voluntariamente do que
imposto; é a prova de uma firme resolução, o que constitui sinal
de progresso.
10 –
Os Espíritos não podem aspirar à perfeita felicidade enquanto não
estão puros; toda mancha lhes impede a entrada nos mundos
felizes. Assim acontece com os passageiros de um navio tomado pela
peste, aos quais fica impedida a entrada numa cidade, até que
estejam purificados. É nas diversas existências corpóreas que os
Espíritos se livram, pouco a pouco, de suas imperfeições. As
provas da vida fazem progredir, quando bem suportadas; como
expiações, apagam as faltas e purificam; são o remédio que limpa
a ferida e cura o doente, e quanto mais grave o mal, mais enérgico
deve ser o remédio. Aquele, portanto, que muito sofre, deve dizer
que tinha muito a expiar e alegrar-se de ser curado logo. Dele
depende, por meio da resignação, tornar proveitoso o seu sofrimento
e não perder os seus resultados por causa de reclamações, sem o
que teria de recomeçar.
AFLIÇÃO
Os
braços que sofrem nas aflições da sementeira
recolherão
os frutos benditos da Seara.
Eurípedes
Do
livro “Dicionário da Alma”
Psicografia
de Francisco Cândido Xavier
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