Tema
da semana
“Causas
anteriores das aflições”
de
04/10/2013 a 10/11/2013
Carlos
Augusto Abranches
Senhor
Jesus,
Venho
a ti hoje com o sentimento tocado por uma dor profunda, vivida por
uma jovem mulher.
Há
poucos dias, uma garota passou por nossa Casa Espírita, implorando
que alguém lhe ouvisse o drama vivido.
Eu
era o único servidor disponível no momento, e me prontifiquei a
escutá-la, já que me parecia muito ferida na emoção.
Depois
de procurar algumas amigas e outras orientações religiosas,
resolveu entrar em nosso Centro, como último local onde pudesse
extravasar seu sofrimento.
No
diálogo fraterno, disse chorando que se decidira por fazer um
aborto. Dois meses atrás, seu lar fora assaltado, e um dos ladrões
a violentara, engravidando-a.
Assim
que soube da gravidez, tomou-se de horror pelo próprio corpo,
principalmente pelo bebê que ganhava vida em seu interior.
Confusa,
afirmou que nem sabia por que entrara em nosso grupo espírita, até
porque já estava decidida. Eliminar o feto era a única forma de não
permitir que um monstro gerasse um ser por seu intermédio.
Lembro-me,
Senhor, que a jovem citara a reportagem de uma revista feminina, que
orientava sobre a prática do aborto por estupro. O Código Penal
Brasileiro considera legal essa decisão, da mesma forma que o
praticado quando está em risco a vida da gestante.
De
imediato, recordei-me dos livros espíritas que contam histórias de
grandes mulheres que sentiam muita afeição por crianças, mas
traziam grandes dívidas morais com elas. Algumas não puderam
acariciar um filhinho nos braços, porque precisaram se reeducar no
amor de mãe, consoante os débitos contraídos no passado.
Mestre
querido, minha dor cresceu quando notei que essa moça fazia
perguntas, mas intimamente já havia obtido as respostas que
desejava, vindas de tantas estudiosas que, movidas por boa vontade,
querem ver a mulher respeitada na sociedade dos homens, e não
aceitam uma violência como essa contra o ser feminino.
Sofri
porque sei o valor moral dessas grandes defensoras da igualdade dos
direitos para ambos os sexos. O drama maior é ter a certeza, Senhor,
de que essas mesmas mulheres ainda não incluíram em suas pautas de
estudo o conhecimento da realidade espiritual, envolvidas aí todas
as implicações advindas da reencarnação e dos compromissos
trazidos de outras vidas.
Sei
que para tantas o tema está fora de cogitação, mas Tu mesmo nos
orientaste que o Pai não precisa da crença das criaturas para que
as Leis Naturais atuem com rigor e precisão, preservadas as suaves
concessões da Misericórdia Divina.
Venho
a ti, Amigo, para refletirmos juntos sobre como agir nesse momento
tão grave. Como informar à vítima que sem a permissão de Deus
nada acontece; que se uma tragédia transformou-a hoje em agredida,
em que página de seu pretérito vamos encontrá-la como agressora,
elaborando a causa geradora do débito!?
É
difícil raciocinar em momento de tão intensa mágoa, sobretudo
quando tantas almas estão envolvidas. O estuprador, condicionado
pela emoção primária da violência; o Espírito reencarnante, que
também se encontra em resgate de pesadas dívidas, por estar no
centro do drama; a mãe, de quem depende a decisão final; os pais,
que via de regra sofrem igualmente as dores de todo o processo;
enfim, todos que se encontram afetivamente vinculados aos personagens
principais.
Inserido
diretamente no contexto, vi-me convidado a deixar-lhe a orientação
espírita, que mostra a vida maior com toda sua pujança e grandeza,
a nos lembrar que Deus se compadece de todos os que sofrem e dos que
fazem sofrer, amando-os indistintamente.
Ó,
Senhor, se soubéssemos um pouco mais da presença do Onipotente em
nossas vidas, quantas tristezas poderíamos superar com equilíbrio e
serenidade. Teríamos convicção, por exemplo, de que assim que
cometemos um erro grave, abrindo campo para futuros sofrimentos,
recebemos ao mesmo tempo incontáveis oportunidades de reajuste, não
através da dor, mas pela grandeza do amor, que é capaz de nos fazer
resgatar o débito sem precisar que passemos pelo mesmo mal causado a
outrem.
A
noção correta das normas do Regente Supremo do Universo nos dá
certeza de que lesões terríveis como a do estupro poderiam ter sido
evitadas, com o despertamento anterior de quem está em dívida.
Entre a ferida aberta da dor imediata e o discernimento consolador da
explicação espírita, rogo por que um dia a segunda opção seja a
mais aceita.
Mas
como dizer isso a quem está com a emoção em pedaços? Peço-te,
portanto, Irmão, que nos ensines a ampliar os efeitos do amor em
nosso próprio ser. Quem sabe, assim, sintamos menos dificuldades
para orientar alguém, já que esse sentimento consegue falar por si,
ao consolar em silêncio.
Diante
das diretrizes materialistas que ainda regem o mundo, deixe-nos
rogar-te por compreensão. Compadece-te dessa mulher que chora, mas
sobretudo do Espírito reencarnante que aguarda uma decisão.
Despede-nos
em tua profunda paz, e roga a Deus pela Humanidade, para que nossos
corações cheios de máculas obscuras se transmutem em páginas
vivas da tua mensagem, a fim de podermos consolar com mais compaixão
os que estão sofrendo tanto.
Assim
seja!
Da
revista
“O reformador”.
Edição
de Junho de 2006.
Fonte:
Reflexões
espíritas.
---
PASSADO
O
passado fala no presente.
É
imprescindível recolher com dor
as
sementes do amor que, outrora,
maltratamos
no mundo.
Emmanuel
Do
livro “Dicionário da alma”.
Psicografia
de “Francisco Cândido Xavier”.
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