Tema
da semana
“
Desigualdade
das riquezas”
de
06/01/2014 a 12/01/2014
Allan
Kardec
8
– A
desigualdade das riquezas é um dos problemas que em vão se procuram
resolver, quando se considera apenas a vida atual. A primeira questão
que se apresenta é a seguinte. Por que todos os homens não são
igualmente ricos? Por uma razão muito simples: é que não são
igualmente inteligentes, ativos e laboriosos para adquirir, nem
sóbrios e previdentes para conservar. Aliás, é uma questão
matematicamente demonstrada que, supondo-se feita essa repartição,
o equilíbrio seria rompido em pouco tempo, em virtude da diversidade
de caracteres e aptidões; que, supondo-a possível e durável, tendo
cada um somente o necessário para viver, isso equivaleria ao
aniquilamento de todos os grandes trabalhos que concorrem para o
progresso e o bem-estar da humanidade; que, portanto, supondo-se que
ela desse a cada um o necessário, desapareceria o estímulo que
impulsiona as grandes descobertas e os empreendimentos úteis. Se
Deus a concentra em alguns lugares, é para que dos mesmos ela se
expanda, em quantidades suficientes, segundo as necessidades.
Admitindo-se isto, pergunta-se por que Deus a concede a pessoas
incapazes de fazê-la frutificar para o bem de todos. Essa é ainda
uma prova da sabedoria e da bondade de Deus. Ao dar ao homem o livre
arbítrio, quis que ele chegasse, pela sua própria experiência, a
discernir o bem e o mal, de maneira que a prática do bem fosse o
resultado dos seus esforços, da sua própria vontade. Ele não deve
ser fatalmente levado a um nem ao outro, pois então seria um
instrumento passivo e irresponsável como os animais. A fortuna é um
meio de prová-lo moralmente; mas como, ao mesmo tempo, é um
poderoso meio de ação para o progresso, Deus não quer que
permaneça improdutiva, e é por isso que incessantemente a
transfere. Cada qual deve possuí-la, para exercitar-se no seu uso e
provar a maneira por que o sabe fazer. Como há a impossibilidade
material de que todos a possuam ao mesmo tempo, e como, se todos a
possuíssem, ninguém trabalharia, e o melhoramento do globo sofreria
com isso: cada qual a possui por sua vez. Dessa maneira, o que hoje
não a tem, já a teve no passado ou a terá no futuro, numa outra
existência, e o que hoje a possui poderá não tê-la mais amanhã.
Há ricos e pobres porque, Deus sendo justo, cada qual deve trabalhar
por sua vez. A pobreza é para uns a prova da paciência e da
resignação; a riqueza é para outros a prova da caridade e da
abnegação. Lamenta-se, com razão, o triste uso que algumas pessoas
fazem da sua fortuna, as ignóbeis paixões que a cobiça desperta, e
pergunta-se se Deus é justo, ao dar a riqueza a tais pessoas. É
claro que, se o homem só tivesse uma existência, nada justificaria
semelhante repartição dos bens terrenos; mas, se em lugar de
limitar sua vida ao presente, considerar-se o conjunto das
existências, vê-se que tudo se equilibra com justiça. O pobre não
tem, portanto, motivo para acusar a Providência, nem para invejar os
ricos, e estes não o têm para se vangloriarem do que possuem. Se,
por outro lado, estes abusam da fortuna, não será através de
decretos, nem de leis suntuárias, que se poderá remediar o mal. As
leis podem modificar momentaneamente o exterior, mas não podem
modificar o coração: eis porque têm um efeito temporário e
provocam sempre uma reação mais desenfreada. A fonte do mal está
no egoísmo e no orgulho. Os abusos de toda espécie cessarão por si
mesmos, quando os homens se dirigem pela lei da caridade.
--
De
fato, se tivéssemos uma só existência, a doutrinação do Mestre
seria um engodo. À luz da reencarnação, entretanto, as diferenças
sociais, como de resto todas as desigualdades, que tanto ofendem as
almas sensíveis e perquiridoras, não se constituem expressões do
arbítrio divino; são agentes de progresso e preenchem,
transitoriamente, uma necessidade na economia da evolução
individual e coletiva.
Referência:
CALLIGARIS,
Rodolfo. O Sermão da Montanha. 16a ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. -
Bem-aventurados os que têm fome...
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