Tema
da semana
“Provas
voluntárias. O verdadeiro cilício”
de
20/01/2014 a 26/01/2014
Allan
Kardec
26 –
Perguntais se é permitido abrandar a vossas provas. Essa pergunta
lembra estas outras: É permitido ao que se afoga procurar salvar-se?
E a quem se espetou num espinho, retirá-lo? Ao que está doente,
chamar um médico? As provas têm por fim exercitar a inteligência,
assim como a paciência e a resignação. Um homem pode nascer numa
posição penosa e difícil, precisamente para obrigá-lo a procurar
os meios de vencer as dificuldades. O médico consiste em suportar
sem murmurações as conseqüências dos males que não se podem
evitar, em preservar na luta, em não se desesperar quando não se
sai bem, e nunca em deixar as coisas correrem, que seria antes
preguiça que virtude.
Essa
questão nos conduz naturalmente a outra. Desde que Jesus disse:
“Bem-aventurados os aflitos”, há mérito em procurar as
aflições, agravando as provas por meio de sofrimentos voluntários?
A isso responderei muito claramente: Sim, é um grande mérito,
quando os sofrimentos e as privações têm por fim o bem do próximo,
porque se trata da caridade pelo sacrifício; não, quando eles só
têm por fim o bem próprio, porque se trata de egoísmo pelo
fanatismo.
Há
uma grande distinção a fazer. Quanto a vós, pessoalmente,
contentai-vos com as provas que Deus vos manda, não aumenteis a
carga já por vezes bem pesada; aceitai-as sem queixas e com fé, eis
tudo o que Ele vos pede. Não enfraqueçais o vosso corpo com
privações inúteis e macerações sem propósito, porque tendes
necessidades de todas as vossas forças, para cumprir vossa missão
de trabalho na Terra. Torturar voluntariamente, martirizar o vosso
corpo, é infligir a lei de Deus, que vos dá os meios de sustentá-lo
e de fortalecê-lo. Debilitá-lo sem necessidade é um verdadeiro
suicídio. Usai, mas não abuseis: tal é a lei. O abuso das melhores
coisas traz as suas punições, pelas conseqüências inevitáveis.
Bem
outra é a questão dos sofrimentos que uma pessoa se impõe para
aliviar o próximo. Se suportardes o frio e a fome para agasalhar e
alimentar aquele que necessita, e vosso corpo sofrer com isso, eis um
sacrifício que é abençoado por Deus. Vós, que deixais vossos
toucadores perfumados para levar consolação aos aposentos infectos;
que sujais vossas mãos delicadas curando chagas; que vos privais do
sono para velar à cabeceira de um doente que é vosso irmão em
Deus; vós, enfim, que aplicais a vossa saúde na prática das boas
obras, tendes nisso o vosso cilício, verdadeiro cilício de bênçãos,
porque as alegrias do mundo não ressecaram o vosso coração. Vós
não adormecestes no seio das voluptuosidades enlanguescedoras da
fortuna, mas vos transformastes nos anjos consoladores dos pobres
deserdados.
Mas
vós que vos retirais do mundo para evitar suas seduções e viver no
isolamento,qual a vossa utilidade na Terra? Onde está a vossa
coragem nas provas, pois que fugis da luta e desertais do combate? Se
quiserdes um cilício, aplicai-o à vossa alma e não ao vosso corpo;
mortificai o vosso Espírito e não a vossa carne; fustigai o vosso
orgulho; recebei as humilhações sem vos queixardes; machucai vosso
amor próprio; insensibilizai-vos para a dor da injúria e da
calúnia, mais pungente que a dor física. Eis aí o verdadeiro
cilício, cujas feridas vos serão contadas, porque atestarão a
vossa coragem e a vossa submissão à vontade de Deus. (UM
ANJO DA GUARDA, Paris,
1863)
[...]
Cada momento de socorro aos semelhantes, no capítulo da bondade e da
tolerância é, realmente, glorioso minuto de prova benemérita, no
qual poderemos desenvolver nossa capacidade máxima de assimilação
do Evangelho Salvador.
Referência:
XAVIER,
Francisco Cândido. Dicionário da alma. Autores Diversos;
[organização de] Esmeralda Campos Bittencourt. 5a ed. Rio de
Janeiro: FEB, 2004. -
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