Tema da semana
Raiva
De 08/12/2014 a 14/12/2014
Joanna
de Ângelis
A raiva é um sentimento que se exterioriza toda vez que o ego sente-se ferido, liberando esse
abominável adversário que destrói a paz no indivíduo.
Instala-se
inesperadamente, em face de qualquer conflito
expresso ou oculto, desferindo golpes
violentos de injúria
e de agressividade.
Inerente a todos os
animais, no ser humano, porque portador
de vontade e discernimento, é responsável por transtornos que conseguem obscurecer lhe a razão e perturbar lhe o equilíbrio, produzindo danos emocionais
de pequeno ou grande alcance, a depender
da extensão e da profundidade de que se reveste.
Quando existe a
primazia dos instintos agressivos, na contextura do ser, este, diante de
qualquer ocorrência desagradável,
real ou imaginária, rebolca-se na situação danosa, em agitação inconsequente, cujos resultados são sempre lamentáveis, quando não funestos.
Predominando nele o
instinto de arbitrária dominação, em falsa postura de superioridade, percebendo a
fragilidade dessa conduta e a impossibilidade de
impor-se, porque não considerado quanto
gostaria, recorre ao mecanismo psicológico da raiva para exteriorizar a
violência ancestral que lhe dorme no íntimo.
A semelhança de um
incêndio que pode começar numa fagulha
e trazer prejuízos incalculáveis pela sua extensão, a raiva também pode ser
ateada por uma simples insinuação de pequena
monta, transformando-se em vulcão de cólera destruidora, que avassala.
Há indivíduos
especialmente dotados da facilidade de
enraivecer-se, que alternam essa emoção com a psicastenia - palavra cunhada por C. G. Jung, como
uma fraqueza psíquica responsável por um estado
de astenia psíquica
constitucional, com forte
tendência para a depressão, o medo, a incapacidade de suportar desafios e dificuldades mentais...
A raiva produz uma
elevada descarga de adrenalina e cortisol
no sistema circulatório, alcançando o sistema nervoso
central, que se agita,
produzindo ansiedade e mantendo o sangue na parte superior do corpo, no que
resultam diversos prejuízos para as organizações física, emocional e psíquica.
Repetindo-se com
frequência, produz o endurecimento das artérias e predispõe a vários distúrbios orgânicos...
De alguma forma, a
raiva é um mecanismo de defesa do instinto
de conservação da vida, que se opõe a qualquer
ocorrência que interpreta como agressão, reagindo, de imediato, quando deveria agir de maneira racional. Porque tolda a faculdade de discernir, irrompe,
desastrosa, assinalando a sua
passagem por desconforto, cansaço e amolentamento das forças, logo cessa o
seu furor...
O animal selvagem,
quando perseguido ou esfaimado ataca, para logo acalmar-se, conseguido o seu objetivo.
O ser humano, além
dessa conduta, agride antes, por medo de
ser agredido, aumentando a gravidade de qualquer ato sob a coerção do pânico que se lhe instala de momento, ante situações que considera perigosas,
evitando racionalizar a atitude, antes
parecendo comprazer-se nela, sustentando a sua
superioridade sobre o outro, aquele a quem atribui o perigo que lhe ronda.
O seu processo de evolução do pensamento e da consciência, porque estacionado nos remanescentes do período egocêntrico, ora transformado em egoico,
estimula esse comportamento inoportuno
e prejudicial, cujos efeitos danosos logo serão sentidos em toda a sua extensão.
O círculo
da raiva é vicioso, porque
o indivíduo adapta-se
a essa injunção, passando a gerar um comportamento agressivo, quando não vivenciando uma
postura contínua de mau humor.
Essa raiva inditosa é
resultado de pequenas frustrações e contínuas
castrações psicológicas, muitas vezes iniciada
na constelação familiar, quando pais rigorosos e imprudentes, violentos e injustos, assumem postura coercitiva
em relação aos filhos, impondo-se-lhes, sem a possibilidade de diálogos esclarecedores.
Lentamente vão-se
acumulando esses estados de amargura
pela falta de oportunidade de defesa ou de justificação, que se convertem em
revolta surda, explodindo, indevidamente, quando
já se faz uma carga muito pesada na conduta.
Por natural
necessidade de afirmação da personalidade, a
criança é teimosa, especialmente por falta de discernimento, por necessidade de adquirir experiências,
gerando atrito com os pais e familiares mais velhos, que nem sempre
estão dispostos a conversar com
esclarecimentos ou sabem como equacionar esses
conflitos do desenvolvimento intelectual e emocional do educando.
Exigem silêncio,
respeito, não permitindo as discussões francas e próprias para os esclarecimentos que se
tornam necessários ao entendimento
das situações existenciais e das possibilidades de ação, no que é ou não concernente a cada um cumprir.
Também ocorre quando
são genitores descuidados que não se interessam
pelos problemas da prole, causando-lhe um fundo
ressentimento, a princípio inconsciente, para desbordar em raiva acumulada.
Outras vezes, como
resultado da timidez, o indivíduo refugia-se
na raiva, e porque não a pode expressar, foge para transtornos profundos que o maceram.
A falta de
conhecimento das próprias debilidades emocionais faz que não disponha de
equilíbrio para enfrentamentos, competições,
discussões, derrapando facilmente no comportamento
infeliz da raiva.
Acidentes
automobilísticos, em grande número, são resultado
da raiva malcontida de condutores que não se
conformam quando outrem deseja ultrapassá-los na rodovia, nas ruas e avenidas, embora estivessem viajando em
marcha reduzida. Sentindo-se subestimado pelo outro
-raciocínio muito pessoal e sem
fundamento — em vez de cederem a
passagem, quando observam que o
outro veículo se lhes emparelha, aceleram e
avançam ambos, raivosos,
até o surgimento de um terceiro em sentido oposto, obedecendo, porém, as
regras, no que se transforma em tragédia.
Bastasse um pouco de
bom-tom, de serenidade, para cooperarem um com o outro, e tudo seria
resolvido sem qualquer dano.
Durante os desportos,
na política, na religião, na arte, participando
ou acompanhando-os, não admitem esses
aficionados a vitória do outro, a quem consideram adversário, quando é somente competidor,
enraivecendo-se e dando lugar a situações
graves, muitas vezes redundando em crimes absurdos.
A raiva é choque
violento que abala profundamente o ser
humano, deixando rastros de desalento e de
infelicidade.
Ela está habitualmente
presente nos debates domésticos, quando
os parceiros não admitem ser admoestados ou convidados à reflexão por atitudes
incompatíveis com a própria afetividade
ou decorrentes de situações que surgem, necessárias para os esclarecimentos que facultem a melhora
de conduta.
Em vez da análise
tranquila do fenômeno, a tirania do ego
exalta-o, o instinto de predominância do mais forte ressuma e a pessoa acredita que está sendo
diminuída, criticada, passando a reagir
antes de ouvir, a defender-se antes da acusação, partindo para a agressão desnecessária, de que sempre arrepende-se depois.
Psicografia
de Divaldo Frando do livro “Conflitos Existenciais”
QUADROS DA
REENCARNAÇÃO
Cornélio Pires
(...)
Leonor enganou Fimfim,
Que morreu de raiva e dor,
Mas Fimfim tornou a terra...
Hoje é filho de Leonor.
Livro
Coisas deste Mundo - Psicografia Chico Xavier
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