Emmanuel
Venho exortar a quantos se entregaram na
Terra à missão da mediunidade, afirmando-lhes que, ainda em vossa época, esse
posto é o da renúncia, da abnegação e dos sacrifícios espontâneos. Faz-se
mister que todos os Espíritos, vindas ao planeta com a incumbência de operar
nos labores mediúnicos, compreendam a extensão dos seus sagrados deveres para a
obtenção do êxito no seu elevado e nobilitante trabalho.
Médiuns! A vossa tarefa deve ser encarada
como um santo sacerdócio; a vossa responsabilidade é grande, pela fração de
certeza que vos foi outorgada, e muito se pedirá aos que muito receberam.
Faz-se, portanto, necessário que busqueis cumprir, com severidade e nobreza, as
vossas obrigações, mantendo a vossa consciência serena, se não quiserdes tombar
na luta, o que seria crestar com as vossas próprias mãos as flores da esperança
numa felicidade superior, que ainda não conseguimos alcançar! Pesai as consequências
dos vossos mínimos atas, porquanto é preciso renuncieis à própria
personalidade, aos desejos e aspirações de ordem material, para que a vossa
felicidade se concretize.
VIGIAR PARA VENCER
Felizes daqueles que, saturados de
boa-vontade e de fé, laboram devotadamente para que se espalhe no mundo a Boa
Nova da imortalidade. Compreendendo a necessidade da renúncia e da dedicação,
não repararam nas pedras e nos acúleos do caminho, encontrando nos recantos do
seu mundo interior os tesouros do auxilio divino. Acendem nos corações a luz da
crença e das esperanças, e se, na maioria das vezes, seguem pela estrada
incompreendidos e desprezados, o Senhor enche com a luz do seu amor os vácuos
abertos pelo mundo em suas almas, vácuos feitos de solidão e desamparo.
Infelizmente, a Terra ainda é o orbe da
sombra e da lágrima, e toda tentativa que se faz pela difusão da verdade, todo
trabalho para que a luz se esparja fartamente encontram a resistência e a reação
das trevas que vos cercam. Dai nascem as tentações que vos assediam, e partem
as ciladas em que muitos sucumbem, à falta da oração e da vigilância apregoadas
no Evangelho.
QUEM SÃO OS MÉDIUNS NA SUA GENERALIDADE
Os médiuns, em sua generalidade, não são
missionários na acepção comum do termo; são almas que fracassaram
desastradamente, que contrariaram, sobremaneira, o curso das leis divinas, e
que resgatam, sob o peso de severos compromissos e ilimitadas
responsabilidades, o passado obscuro e delituoso. O seu pretérito, muitas
vezes, se encontra enodoado de graves deslizes e de erros clamorosos. Quase
sempre, são Espíritos que tombaram dos cumes sociais, pelos abusos do poder, da
autoridade, da fortuna e da inteligência, e que regressam ao orbe terráqueo
para se sacrificarem em favor do grande número de almas que desviaram das
sendas luminosas da fé, da caridade e da virtude. São almas arrependidas que
procuram arrebanhar todas as felicidades que perderam, reorganizando, com
sacrifícios, tudo quanto esfacelaram nos seus instantes de criminosas
arbitrariedades e de condenável insânia.
AS OPORTUNIDADES DO SOFRIMENTO
As existências dos médiuns, em geral, têm
constituído romances dolorosos, vidas de amargurosas dificuldades, em razão da
necessidade do sofrimento reparador; suas estradas, no mundo, estão repletas de
provações, de continências e desventuras. Faz-se, porém, necessário que
reconheçam o ascetismo e o padecer, como belas oportunidades que a
magnanimidade da Providência lhes oferece, para que restabeleçam a saúde dos
seus organismos espirituais, combalidos nos excessos de vidas mal orientadas,
nas quais se embriagaram à saciedade com os vinhos sinistros do vicio e do
despotismo.
Humilhados e incompreendidos, faz-se mister
que reconheçam todos os benefícios emanantes das dores que purificam e
regeneram, trabalhando para que representem, de fato, o exemplo da abnegação e
do desinteresse, reconquistando a felicidade perdida.
NECESSIDADE DA EXEMPLIFICAÇÃO
Todos os médiuns, para realizarem dignamente
a tarefa a que foram chamados a desempenhar no planeta, necessitam
identificar-se com o ideal de Jesus, buscando para alicerce de suas vidas o
ensinamento evangélico, em sua divina pureza; a eficácia de sua ação depende do
seu desprendimento e da sua caridade, necessitando compreender, em toda a
amplitude, a verdade contida na afirmação do Mestre: “Dai de graça o que de
graça receberdes.”
Devendo evitar, na sociedade, os ambientes
nocivos e viciosos, podem perfeitamente cumprir seus deveres em qualquer posição
social a que forem conduzidos, sendo uma de suas precípuas obrigações melhorar
o seu meio ambiente com o exemplo mais puro de verdadeira assimilação da
doutrina de que são pregoeiros.
Não deverão encarar a mediunidade como um dom
ou como um privilégio, sim como bendita possibilidade de reparar seus erros de
antanho, submetendo-se, dessa forma, com humildade, aos alvitres e conselhos da
Verdade, cujo ensinamento está, frequentemente, numa inteligência iluminada que
se nos dirige, mas que se encontra igualmente numa provação que, humilhando,
esclarece ao mesmo tempo o espírito, enchendo-lhe o íntimo com as claridades da
experiência.
O PROBLEMA DAS MISTIFICAÇÕES
O problema das mistificações não deve
impressionar os que se entregam às tarefas mediúnicas, os quais devem trazer o
Evangelho de Jesus no coração. Estais muito longe ainda de solucionar as
incógnitas da ciência espírita, e se aos médiuns, às vezes, torna-se preciso
semelhante prova, muitas vezes os acontecimentos dessa natureza são também provocados
por muitos daqueles que se socorrem das suas possibilidades.
Tende o coração sempre puro. E com a fé, com
a pureza de intenções, com o sentimento evangélico, que se podem vencer as
arremetidas dos que se comprazem nas trevas persistentes. é preciso esquecer os
investigadores cheios do espírito de mercantilismo!... Permanecei na fé, na
esperança e na caridade em Jesus - Cristo, jamais olvidando que só pela
exemplificação podereis vencer.
APELO AOS MÉDIUNS
Médiuns, ponderai as vossas obrigações
sagradas! preferi viver na maior das provações a cairdes na estrada larga das
tentações que vos atacam, insistentemente, em vossos pontos vulneráveis.
Recordai-vos de que é preciso vencer, se não
quiserdes soterrar a vossa alma na escuridão dos séculos de dor expiatória.
Aquele que se apresenta no Espaço como vencedor de si mesmo é maior que
qualquer dos generais terrenos, exímio na estratégia e tino militares. O homem
que se vence faz o seu corpo espiritual apto a ingressar em outras esferas e,
enquanto não colaborardes pela obtenção desse organismo etéreo, através da
virtude e do dever comprido, não saireis do círculo doloroso das reencarnações.
Psicografia
de Chico Xavier do livro ‘Emmanuel’.
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