Viana
de Carvalho
Todo aquele que consegue exercer a
mediunidade com elevação, engrandecendo-se e alçando-a aos nobres cimos da
vida, no cumprimento da gloriosa missão de ser instrumento do Divino
Pensamento, alcança, na Terra, a excelência do mediunato.
Dever de grande abrangência, a sua
desincumbência revela-se difícil pelos impositivos de que se reveste, pelos
sacrifícios que impõe e pelas dificuldades a superar.
Poucos discípulos da verdade se hão entregado
com a necessária abnegação, graças à qual, ao largo do tempo, o homem se doa em
espírito de serviço à humanidade, com tal renúncia de si mesmo, que ultrapassa
a sua condição para lograr o apostolado mediúnico, o mediunato.
A princípio, são os fortes apelos para a
edificação pessoal, a plenitude psíquica e emocional, acalmando as necessidades
materiais e superando as fraquezas delas decorrentes, para depois,
experimentando as superiores satisfações do espírito, imolar-se por amor, na
execução das atividades a que se sente convocado.
Nesse caminho atulhado de pedrouços, os
desafios se sucedem, ameaçadores, ao mesmo tempo ferindo e macerando os
audaciosos transeuntes que põem os olhos nas metas à frente e buscam
alcançá-las. Não se trata de um empreendimento fácil ou de curto prazo, antes,
de uma realização prolongada, na qual são enfrentados os perigos que procedem
da inferioridade, que teima em permanecer, dominadora.
Definido o rumo e aceito o compromisso,
torna-se mais factível a vitória, ganhando-se, dia-a-dia, o espaço que medeia
entre a aspiração e o objetivo.
Zoroastro, o grande reformador, nascido na
Média, não descansou enquanto não concluiu a missão para a qual reencarnou.
Buda, o Sábio e Solitário dos Sákias,
entregou-se com total renúncia ao ministério de reformar a religião adulterada
pelo formalismo brâmane, e, não se detendo diante dos impedimentos que o
afligiam, permanece fiel até o momento final.
Pitágoras, inspirado pelos espíritos,
colocou-se a serviço da verdade, tornando-se responsável pela descoberta das
matemáticas, geométricas e astronômicas, deixando um rastro luminoso na
história.
Sócrates e Moisés, Isaías e Daniel, entre
outros, foram exemplos de missionários que, no mediunato, atingiram as mais
elevadas expressões do intercâmbio espiritual em favor da humanidade.
Posteriormente, João Batista e João
Evangelista se fizeram expoentes da mediunidade gloriosa, demonstrando o poder
da imoralidade sobre as vicissitudes humanas.
Acima, porém, de todos eles, Jesus-Cristo
fez-se o Médium de Deus e tornou-se insuperável como Fonte Inspiradora para os
homens de todos os séculos.
Perseguido e macerado, sob injunções
dolorosas mais se ligava ao Pai, em Quem hauria forças para o Messianato a que
se ofereceu, preferindo a coroa do martírio à falaciosa grandeza terrena.
Depois dEle, outros servidores da Sua Seara,
profundamente vinculados à vida espiritual e aos desencarnados com os quais
confabulavam, exerceram o mediunato de forma eloquente, imolando-se todos por
amor ao bem geral e certos da vitória final sobre as fugazes condições
terrenas.
Com o espiritismo, o exercício do mediunato
tornou-se mais acessível, em se considerando as diamantinas claridades que projeta
nos emaranhados e sombrios mistérios da vida, especialmente sobre a realidade
do além-túmulo, onde nascem as estruturas do ser e se encontram a sua origem e
o seu destino final.
Trazendo de volta, à atualidade, o profetismo
hebreu e helênico, os fenômenos que constituíram a glória das civilizações
passadas, deu-lhes um sentido novo, perfeitamente concorde com as conquistas do
hodierno conhecimento, de modo a impulsionar o homem em direção do
autodescobrimento e da razão pela qual se encontra no mundo físico.
Em uma ligeira análise, explicam-se, à luz da
revelação espírita, a inspiração do Homero, cujos Cantos procediam de ignotas e
nobres regiões espirituais; de Virgílio, sintonizando com as entidades
elevadas, e sendo também considerado profeta; de Dante, que demonstrou possuir
superiores faculdades mediúnicas, graças às quais manteve permanente contato
com os espíritos; de Torquato Tasso, que, em contínuo intercâmbio espiritual e
inspirado por Ariosto, aos dezoito anos compôs o seu Renaud, concluindo a
célebre Jerusálem Libertada, que é a obra máxima da sua vida extraordinária...
E quantos outros, médiuns inspirados ou psicógrafos,
audientes ou sonambúlicos, que se deixaram conduzir pelos guias da humanidade,
a fim de apressarem a obra do progresso terrestre?!
Comunicações indiretas como insólitas hão
despertado a consciência humana para a realidade espiritual do ser, a todos
conclamando para a ação do bem, da justiça e do amor.
No mediunato, entretanto, o servidor atinge o
seu momento supremo, deixando de manter a personalidade dominadora, para que o
Cristo nele se manifeste e habite, conforme declarou o médium de Tarso, na sua
doação total à causa da verdade: - “Já não sou eu o que vivo, mas é o Cristo
que vive em mim.”
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