Vianna
de Carvalho
O exercício da mediunidade correta impõe
disciplinas que não podem ser desconsideradas, seriedade e honradez que lhe conferem
firmeza de propósitos com elevada qualidade para o ministério.
Porque independente dos requisitos morais do
intermediário, este há de elevar-se espiritualmente, a fim de atrair as
entidades respeitáveis que o podem promover, auxiliando-o na execução do
delicado programa a que se deve ajustar.
Pelo fato de radicar-se no organismo, o seu
uso há que ser controlado e posto em regime de regularidade, evitando-se o
abuso da função, que lhe desgasta as forças mantenedoras, como a ausência da
ação, que lhe obstrui mais amplas aptidões que somente se desenvolvem através
de equilibrada aplicação.
Face à sintonia psíquica responsável pela
atração daqueles que se comunicam, a questão da moralidade do médium é de
relevante importância, preponderando, inclusive, sobre os requisitos culturais,
porquanto estes últimos podem constituir-lhe uma provocação, jamais um
impedimento, enquanto a primeira favorece a união com os espíritos de igual
nível evolutivo.
Embora os cuidados que o exercício da
mediunidade exige, nenhum sensitivo está isento de ser veículo de burla, de
mistificação. Esta pode, portanto, ter várias procedências: a) dos espíritos
que se comunicam, denunciando a sua inferioridade e demonstrando falhas no
comportamento do medianeiro, que lhes ensejou a farsa; às vezes, apesar das
qualidades morais relevantes do médium, este pode ser vítima de embuste, que é
permitido pelos seus instrutores desencarnados com o fim de pôr-lhe à prova a
humildade, a vigilância e o equilíbrio; b)involuntariamente, quando o próprio
espírito do médium não logra ser um fiel intérprete da mensagem, por
encontrar-se em aturdimento, com estafa, desgaste e desajustado emocionalmente;
c) inconscientemente, em razão da liberação dos arquivos da memória – animismo
– ou por captação telepática direta ou indireta; d) por fim, quando se sentindo
sem a presença dos comunicantes e sem valor moral para explicar a ocorrência,
apela para a mistificação consciente e infeliz, derrapando no gravame moral
significativo.
Eis por que o médium se deve preservar dos
abusos, não exorbitando das energias que lhe permitem a ação da faculdade,
porquanto esta, à semelhança de outra qualquer, sofre as alternâncias do
cansaço e do repouso, dá boa ou da má utilização.
A prática mediúnica impõe, como condições
ético-morais, o idealismo e a dedicação desinteressada de quaisquer
recompensas, pois que o mercantilismo e a simonia transformam-na em campo de
exploração perniciosa. Não se beneficiando com as retribuições que são
encaminhadas aos médiuns, os espíritos nobres os deixam à própria sorte, sendo
assim substituídos pelos interesseiros e vãos, que passam ao comércio das
forças psíquicas em processo de vampirismo cruel, terminando por aproximar-se
da casa mental do irresponsável, em conúbio danoso. Outras vezes, sentindo-se obrigado
a atender o consulente que lhe compra o honorário, o sensitivo assume a
responsabilidade da mensagem, mistificando em consciência, na crença de que ao
outro está enganando, sem dar-se conta das consequências funestas que o gesto
lhe acarreta e que se apresentarão no momento próprio.
A venda, porém, da mediunidade, não se dá,
exclusivamente, mediante a moeda de contado, mas, também, através dos presentes
de alto preço, da bajulação chula, do destaque vão com que se busca distinguir
os médiuns, exaltando-lhes o orgulho e a vacuidade.
É austera e irretocável a recomendação de
Jesus quanto ao "dar de graça o que de graça se recebe",
valorizando-se o conteúdo da concessão superior, honrando-a com carinho e
respeito, em razão da sua procedência, quanto do seu destino.
A mistificação mediúnica de qualquer natureza
tem muito a ver com o caráter moral do médium, que, consciente ou não, é
responsável pelas ocorrências normais e paranormais da sua existência.
A mediunidade é para ser exercida com
responsabilidade e pureza de sentimentos, não se lhe permitindo macular com as
enganosas paixões inferiores da condição humana das criaturas.
Com a sua vulgarização e a multiplicação dos
médiuns , estes, desejando valorizar-se e dar brilho especial às suas
faculdades, apelam para superstições e exotismos do agrado das pessoas frívolas
e ignorantes, que os incorporam às suas ações, caindo, desse modo, em
mistificações da forma, através dos processos escusos com os quais visam
impressionar os incautos.
A prática mediúnica dispensa todo e qualquer
rito, indumentária, práxis, condição por estribar-se em valores metafísicos que
as formas exteriores não podem alcançar.
O mau uso da faculdade mediúnica pode
entorpecê-la e até mesmo fazê-la desaparecer, tornando-se, para o seu portador,
um verdadeiro prejuízo, uma rude provação.
Algumas vezes, como advertência,
interrompe-se-lhe o fluxo medianímico, e os espíritos superiores, por afeição
ao médium, permitem que ele o perceba, a fim de mais adestrar-se, buscando
descobrir a falha que propiciou a suspensão e restaurando o equilíbrio; outras
vezes, é-lhe concedida com o objetivo de facultar-lhe algum repouso e refazimento.
A mistificação é um dos graves escolhos à
mediunidade, todavia, fácil de se evitar, como de se identificar.
A convivência com o médium dará ao observador
a dimensão dos seus valores morais, e será por estes que se poderá medir a
qualidade e as resistências mediúnicas do mesmo, a possibilidade dele ser
vítima ou responsável por mistificações.
Psicografia
de Divaldo Franco do livro “Médiuns e Mediunidade”
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